sexta-feira, 1 de março de 2013

A força do sol de verão invadiu a telinha de todos!!!
 Comemoramos o aniversário dessa nossa cidade maravilhosa relembrando uma novela que causou frisson no início dos anos 80, que estreou há 31 anos no horário nobre da TV Globo. Pode-se dizer que foi responsável pela marca do sucesso de um novo padrão entre as tramas da emissora carioca. Era a quarta novela de Manoel Carlos no currículo – ele havia escrito com sucesso “Baila Comigo”, no ano anterior.
  Sol de Verão era uma novela bastante ousada para a sua época, notavelmente foi um sucesso de crítica e de público. Por tratar de temas ainda não recorrentes em novelas, como o dia-a-dia dos deficientes auditivos, mudos e etc. Porém, logo nos primeiros capítulos, os telespectadores já puderam saborear o perfeito texto de Maneco, cheio de emoção e, sempre com uma belo discurso literário. A novela foi um verdadeiro estouro, tendo como principal destaque a intérprete da personagem Rachel, a sempre ótima Irene Ravache, que após sair de um casamento falido, recomeça uma nova fase na vida ao lado da filha, no Rio de Janeiro.

  Entre os destaques da novela, encontra-se a abertura colorida e bronzeada, como sugeria o nome da novela, ao som da música Tô que Tô, de Kleiton & Kledir, interpretada por Simone.
  A química entre Jardel Filho, que deu vida ao mecânico Heitor;  um cinquentão boêmio e bonachão que nunca havia vivido um compromisso sério, e a personagem de Irene Ravache foi perfeita, o que garantiu mais audiência à novela. O sensível trabalho de Tony Ramos como Abel, o surdo-mudo, emocionou todo o país, que mergulhou de cabeça no drama da personagem. Nas escolas, as crianças passaram a reproduzir a linguagem dos surdos-mudos. O jornal O Globo, na época chegou a publicar o alfabeto dos sinais, que também começou a ser distribuído em panfletos nas ruas das grandes cidades.

  O “refresco” de ”Sol de Verão” estava nas tramas paralelas. Os personagens Germano e Flora respectivamente feitos por Helber Rangel e Isabel Ribeiro, representavam as alegrias e tristezas da classe média. O autor firmava ali a marca de seu estilo: a  composição de retratos da vida cotidiana das camadas médias nas grandes cidades.  
 A jovem Clara (Débora Bloch), alegre e cheia de mimos, quando a mãe se separa de seu pai, sua vida muda radicalmente e ela tem dificuldades para lidar com a queda do padrão financeiro de vida.

  Refletindo o sucesso da novela, suas trilhas sonoras venderam como água na época. Da trilha nacional, destacaram-se alguns hits da época, como “Você Não Soube Me Amar” (Blitz),  “Muito Estranho” (Dalto), “Tempos Modernos” (Lulu Santos), “O Melhor Vai Começar” (Guilherme Arantes), “Tendência” (Beth Carvalho), “Coisas de Casal” (Rádio Táxi), “Sumida” (Wando).
 No decorrer da trama, Heitor (Jardel Filho) enfrenta o médico charlatão Hilário (Carlos Kroeber), proprietário do terreno em que mora junto com seu ajudante, o surdo-mudo Abel (Tony Ramos). Ao descobrir que sua mulher, Sofia (Yara Amaral), teve um caso com o pai de Abel, Caetano (Gianfrancesco Guarnieri), Hilário exige que o rapaz seja expulso do casarão.

 Uma das cenas mais comoventes da novela acontece nos capítulos finais: ao descobrirem que são mãe e filho, Sofia (Yara Amaral) e Abel (Tony Ramos) se abraçam, emocionados.
Manoel Carlos fez um comentário sobre “Sol de Verão”:
“- Quando me perguntam qual a novela que eu mais gostei de escrever, eu sempre respondo que é “Sol de verão”. Tanto, que já me ofereci a Globo para escrever um remake da história. Foi em “Sol de verão” que perdi um dos meus melhores amigos: Jardel Filho. Esse fato, obviamente, contribuiu para que a novela ficasse marcada na minha memória e fosse uma das partes mais ricas das minhas lembranças e ele foi um dos meus melhores personagens. O remake pretendo dedicar publicamente à memória desse inesquecível amigo” - lembrou Manoel Carlos.
POR, Vinícius Sylvestre

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

“O Cravo e a Rosa”, a melhor comédia das seis

Por Vinícius Sylvestre,

Inspirada na peça “A Megera Indomada” de William Shakespeare e na novela “O Machão” de Ivani Ribeiro, “O Cravo e a Rosa” marcou a estreia de Walcyr Carrasco na Globo e o retorno do diretor Walter Avancini, os dois que já haviam trabalhado juntos em “Xica da Silva” repetiram a parceria nesta comédia inesquecível.

Quem viu Adriana Esteves dando um show como Carminha de “Avenida Brasil”, sabe que a atriz possui uma veia cômica bastante aflorada, talvez seja herança da mocinha brigona Catarina, a qual atirava vasos pela casa sempre que seu pai insistia para que casasse. Feminista ao extremo, ela não queria ser submissa a homem nenhum, até que Petruchio, interpretado com maestria por Eduardo Moscovis, toma para sai a missão de domar a fera e levá-la ao altar.

“O Cravo e a Rosa” foi uma comédia realista. Ao dirigir os atores, o sábio Avancini pediu a eles que atuassem sem fazer graça, assim o texto por si só cumpriria este papel. O resultado foi uma trama engraçada do início ao fim, despida de qualquer afetação, ou forçação.

Com um elenco enxuto, Walcyr armou núcleos que eram cômicos e dramáticos ao mesmo tempo. A família Valente – composta por Cornélio, Dinorá, Josefa e Heitor – fazia o público ri, chorar, amar e odiar. Maria Padilha vivia a mulher adúltera, Ney Latorraca fazia o marido traído e a incrível Eva Todor estava na pele da sogra rabugenta. Um trio de grandes atores do teatro que defenderam seu núcleo brilhantemente.

No cenário rural, encontravam-se as melhores personagens caipiras já criadas por Carrasco. Pedro Paulo Rangel, Ana Lúcia Torre, Taumaturgo Ferreira e a estreante Vanessa Gerbelli conseguiram fugir dos estereótipos e encher seus papeis de profundidade. Os bordões de Calixto, a paixão reprimida de Neca, a ascensão social Januário e as armações de Lindinha movimentaram a trama.

De “Xica da Silva”, não foi apenas a parceria entre autor e diretor que se repetiu, muitos atores que estiveram na produção da Manchete marcaram presença. Caso de Drica Moraes, que viveu sua segunda vilã escrita por Walcyr, Déo Garzez e Mateus Petinatti. Todos eles foram bem aproveitados, principalmente Drica que mostrou ser versátil fazendo uma personagem que poderia cair em repetição.

A trilha sonora mesclava clássicos como “Lua Branca” de Chiquinha Gonzaga e músicas contemporâneas como “Tua Boca” do cantor Belo que embalava os momentos românticos do casal brigão.

“O Cravo e a Rosa” elevou os índices do horário das seis com uma média geral de 31 pontos no Ibope. As anteriores “Força de um Desejo” e “Esplendor”, pontuaram 26 e 28, respectivamente. Sucesso de público e crítica, a comédia voltou em 2003, menos de dois anos após o seu fim e cravou no “Vale a Pena Ver de Novo” uma média geral de 22 pontos. “Arriegua!”.

 

sábado, 13 de outubro de 2012

Um ator de conteúdo
“Ser ator é uma necessidade existencial, embora tenha encontrado muitas dificuldades nesta trajetória. Porém, as dificuldades sempre foram menores do que minha vontade de realizar este sonho”, disse o simpatissíssimo ator Déo Garcez (Deolindo Rodrigues Garcez), de 45 anos, mas com cara de adolescente e corpão de menino do Rio, que venceu todas as fronteiras e preconceitos de São Luís do Maranhão, tem participado de filmes, novelas e seriados de TV, contracenando com grandes nomes da televisão brasileira.
Texto: Vinícius Sylvestre
Fotos: Luciene Craveiro
Apesar de volta e meia estar presente nas telas, o ator afirma que os convites não surgem por acaso. Segundo ele, a batalha é diária e a cada dia tem que matar um leão, ou seja, tem que levar seu currículo, fazer testes e esperar ser chamado. Ator desde os 11 anos de idade, Déo está vivendo um momento feliz no universo infantil , interpretando o senhor Marcos Morales, no remake de “Carrossel”. Mas em 2010, com a nova montagem do espetáculo "Morte Sobre a Lama", de Ricardo Torres que participou da “8ª edição do Festival de Teatro da Cidade do Rio de Janeiro”, Déo recebeu o prêmio de melhor ator. Nessa entrevista exclusiva, o ator fala sobre sua carreira, o preconceito existente na televisão e dá conselhos para quem está ingressando na profissão.
Déo, como você descobriu sua vocação pra carreira artística?
Um grupo teatral levou a minha escola para assistir uma peça infanto-juvenil lá em São Luís do Maranhão. Na época eu tinha 11 anos, e ao assistir aquela peça eu me apaixonei pelo teatro. Quando a peça terminou, procurei a bilheteria e me apresentaram o diretor que era o Reynaldo Faray, um homem muito importante nas artes e na cultura de São Luís do Maranhão. No ano seguinte fiz o curso de iniciação teatral com o Faray, que me deu uma ampla bagagem cultural. Estreei no palco do Teatro Arthur Azevedo com a peça Flicts, de Ziraldo, e não parei mais de representar. Trabalhei muito nesta área, depois fui pra Brasília , continuei neste ramo  , até ingressar na faculdade de teatro. Quando vim para o Rio de Janeiro trabalhei com teatro e televisão.

Você começou sua carreira na televisão no final dos anos 70, integrando o elenco do programa “Lagartixa já era, Virou Borboleta”, de autoria e direção da Lêda Nascimento. Que lembranças você tem daquela época?
Era um programa infantil com bonecos gravado na TV E. As lembranças são as melhores possíveis! Eu era pré-adolescente, cheio de vontade ,  sem preocupação nenhuma com resultados, sabe? Estava amando descobrir a arte teatral. Foram lembranças que nortearão a minha vida. Fazer televisão era uma coisa mágica. Foi tudo! (risos)

O que é mais difícil para um ator em inicio de carreira?
Acho que a colocação nesse competitivo mercado de trabalho. Claro, existe a dificuldade do aprendizado e também de encontrar boas escolas de teatro, bons profissionais que ensinem verdadeiramente o trabalho de um ator, preparar o iniciante tecnicamente, isso é uma grande dificuldade, encontrar os profissionais certos para aprender como fazer!

Sua primeira novela na teledramaturgia brasileira foi “Xica da Silva” (TV Manchete/1996). Como surgiu o convite pra você interpretar o mucamo Paulo?
Eu tinha chegado no Rio e já estava acontecendo a pré- produção da novela. A produtora de elenco me ligou,  dizendo que o Walter Avancini estava fazendo testes com atores para o papel. Fiz o teste com inúmeros atores cariocas e fui escolhido sem tem a menor experiência com novela. Foi meu primeiro personagem na televisão, numa oportunidade maravilhosa. Antes tinha feito um curso com o Wolf Maya e outro com a Tizuka Yamazaki de interpretação para vídeo e TV. Em Brasília antes de vir para o Rio, eu  já tinha feito dois cursos de teatro onde fui bacharelado em interpretação teatral e licenciado em artes cênicas. No curso de bacharelado em Brasília, tive a felicidade de ser aluno da eterna Dulcina de Moraes. Isso é um luxo, privilégio, é uma riqueza muito grande, uma bagagem impressionante e maravilhosa!

E como era seu contato com o temido Walter Avancini durante a novela “Xica da Silva”?
Sempre estava em contato com o Avancini. Ele era considerado um dos grandes profissionais da teledramaturgia. Foi tranquilo, apesar de saber que ele era um diretor muito ríspido, muito exigente, mas também por outro lado muitíssimo competente. Ele gostava do meu trabalho, tanto é que me escolheu a partir daquele teste. No primeiro contato , ele me colocou pra ler os capítulos que já estavam em minhas mãos, e juntos nós fomos descobrindo, por exemplo, o olhar do personagem. Era um diretor que trabalhava muito os detalhes de criação, sabe? Buscando verdadeiramente a essência de cada personagem! Sentamos em sua sala, ele pediu pra eu ler o texto , pediu pra eu dar uma respiração, um olhar para a personagem, e aí foi o momento que ele disse: “É isso!”. E a personagem foi surgindo e acontecendo! (risos)
Você acha que a novela distancia o público da realidade?
Talvez sim, quando se glamoriza a questão de classes sociais inferiores. O pobre mostrado na novela , não é o mesmo da vida real. Acredito que tenha um certo glamour, sim. O que já e o contrário do cinema que mostra a verdade nua e crua! Já a novela acaba glamorizando a pobreza.

Um personagem seu que eu adorava era o Ezequiel dos Anjos da novela “O Cravo e a Rosa” (TV Globo/2000) que era o assistente apaixonado da malvada Marcela (Drica Moraes). Como foi participar dessa maravilhosa novela?
Viver o Ezequiel foi maravilhoso. Década de 20. Novela de época, que exige muito mais do ator. Eu tinha vindo de Xica da Silva, na qual eu vivi um escravo submisso e ignorante. E no Cravo e a Rosa, que também era escrita pelo Walcyr Carrasco e dirigida pelo Avancini, eu fiz um personagem oposto do que tinha vivido. Um homem estudado na Sorbonne em Paris, sofisticado, que ensinava boas maneiras... Eu sou um ator que adoro essa possibilidade da diversidade de personagens, perfis diferentes, é um desafio que eu particularmente adoro. Tanto é que você gostou, né? (risos)

Numa das suas inúmeras entrevistas, você disse que "trabalhava em duas escolas municipais de Ensino Fundamental". Você era professor?
Sim, dei aulas de teatro durante onze anos aqui no Rio de Janeiro. E durante um ano em Brasília. Quando  fiz o curso  de teatro lá,  fiz também o bacharelado , interpretação, e a licenciatura. Dei aulas de artes cênicas para alunos de 1º e 2º grau. Tenho um amigo que fala sempre: “Déo, depois que você começou a dar aula, se tornou um outro ator.” Porque é aquela história, o professor é um ator por natureza. A cada turma é um desafio diferente. Pra mim foi uma bagagem muito grande! E foi ideal durante 11 anos.

Então, como você encara esse descaso que o governo tem com relação à educação no Brasil?
Encaro isso de uma forma muito crítica. Acho terrível a falta de educação, cidadania... Isso está refletido na violência das ruas sujas, na falta de consciência no comportamento social, os analfabetos culturais... É triste saber que ainda temos um percentual bem alto de analfabetos. Um real investimento deve ser feito a fim de mudar essa realidade. Eu sou daqueles que tive a oportunidade de estudar numa escola pública de ótima qualidade, tive excelentes professores, tanto que o nome da escola era: ‘Escola Modelo Benedito Leite’, lá no Maranhão era uma escola padrão. Isso fez despertar em mim o meu dom artístico. A educação está ligada diretamente a cultura, as artes, ao desenvolver os dons e as habilidades de cada um, né! Só tenho à agradecer.
Recentemente você participou do longa metragem “Ódio” (2012), dirigido por Luiz Rangel. Como foi a experiência em viver a personagem Vanusa?  Tem planos de atuar novamente na ‘sétima arte’?
Foi fantástico! Eu não conhecia o Luiz Rangel. E  quando me chegou esta personagem , foi de uma indicação do meu amigo e ator Dionísio Correa que tinha feito Canavial de paixões comigo no SBT. Ao assistir meu link,  o Rangel gostou e mandou me chamar. Vanusa era um travesti do filme. Era um remake dos anos 70. Foi uma brincadeira muito gostosa, que deu super certo,  porque todos que estavam no set de gravação  riam muito com a Vanusa. Eu a criei,  e o trabalho virou um jogo que deu certo. Eu tô louco pra assistir o resultado nas telas! Já tenho dois filmes pra fazer ano que vem, um deles é o Inferno setenta, do Rangel, no qual começaremos a gravar as primeiras tomadas ano que vem. Sobre o outro filme ainda não posso falar ,porque o projeto ainda está muito embrionário!

A novela "Mutantes" da Rede Record foi o terceiro texto do autor Tiago Santiago em que você trabalhou. Como foi participar da trilogia desse autor?
Realmente, foi um personagem interessante. Era um professor de história, homossexual, usava tranças e tal. Foi um desafio profissional que eu curti muito fazer. Foi curioso porque esse personagem viajava no decorrer da novela e voltava no final, continuando em outra novela do mesmo autor, que era Mutantes. Com outras informações, diferente, mas com a mesma essência. Foi uma experiência nova passar de uma novela pra outra, com o mesmo personagem.

A voz de alguns artistas se rebelam contra a gestão governamental da cultura desse governo Lula/Dilma que pouca coisa faz, mas entre o exagero dessa expressão e a covardia dos que aderem, sem mais, ao governismo – qualquer governismo –, a sociedade civil deve ficar com os exageros. O que você acha que estamos vivendo uma crise cultural no Brasil?
Realmente poderíamos ter mais oportunidades. Um exemplo é a Lei Rouanet. Eles poderiam facilitá-la para que possa democratizar mais a cultura especialmente no teatro. É uma dificuldade muito grande conseguir patrocínio, quando se não é um global, entende? Eu acho que por falta desse berço, de preparação da arte nas escolas e de ensino regular. Também falta o apoio governamental que estimule a cultura. Precisamos cobrar mais das autoridades, essa postura de efetivar algo mais eficiente a favor da cultura brasileira. Investir mais no teatro, nas artes plásticas, no cinema que tá tendo mais visibilidade, né? A gente vê as coisas acontecerem muito no Rio e São Paulo, e o país não é só esses dois estados. Espero que a democratização não fique apenas nas mãos dos mesmos grupos, também devemos lembrar que o Nordeste o Centro-Oeste precisa de apoio governamental. Ainda tenho esperança de que isso vá acontecer!

Atualmente você vem dando um show de interpretação como o senhor Marcos Morales na novela “Carrossel” (SBT/2012). O que você pode adiantar sobre os rumos desse seu maravilhoso personagem?
A princípio eu não tinha grandes expectativas, quando fui convidado para integrar o elenco. Inclusive tive a felicidade de ser escolhido pela Íris Abravanel (autora de Carrossel), esposa do Sílvio Santos. Na primeira versão, a personagem era um ator mais velho na faixa dos 65 anos, branco e tal. Daí eu percebi que a autora esta fazendo um contraponto com o ator que fez antes a personagem e eu, que sou um ator mais novo e negro. É uma novela que está sendo feita para unir a família brasileira. As crianças chamam os pais para assistirem, virou uma febre de Carrossel! As crianças aprendem sobre educação, cidadania, boas maneiras, ética... Quando a novela estreou , a repercussão nas mídias sociais foi imediata. Porque eu acho que novela não é só pra divertir, mas também para ser pensada, sabe? O senhor Morales é um homem do bem, e que me traz um retorno muito positivo. Isso me deixa muito feliz, apesar de gravar pouco. Digamos que seja uma participação especial. (risos)
O que você ressaltaria do texto da autora Íris Abravanel? E como está sendo essa parceria de sucesso?
Ressalto a contemporaneidade que ela está dando na novela ,que deixa a obra com a cara do Brasil. A questão do preconceito, o bullying, o fato de me escolher pra fazer o senhor Morales. Também ressalto a reflexão da alegria, na qual ela usa para retratar as histórias daquelas crianças. Aborda temas sérios e necessários para serem discutidos de uma forma alegre.
Você é um dos atores mais comentados e queridos do público GLS. Como é a sua relação com essa turma?
Isso se deve em relação a novela Xica da Silva, né! Quando minha personagem participava de um ardente triângulo amoroso com as personagens da Giovanna Antonelli e do Guilherme Piva, onde acontecia uma relação homossexual e bissexual. Esse personagem se tornou um ícone para o público GLS. Eu sou uma pessoa livre de preconceitos, até porque a essência da arte e do artista é o altruísmo e também a generosidade. Vivemos no século XXI,  onde eu tenho certeza que os tabus devem ser rompidos. Então ,  acho que é obrigação do artista ser generoso.

Para um ator negro ainda não é nada fácil, mas nos últimos tempos temos visto alguns pequenos avanços. Alguns prêmios já foram entregues a alguns atores negros. O que isso representa para você? Será realmente um incentivo ou uma maneira deles dizerem que estamos falando demais?
Prefiro acreditar que seja mesmo um reconhecimento de valores, dos talentos, torcendo pra que esse avanço seja mais rápido e que as portas possam se abrir mais e mais. Não apenas a alguns atores negros, mas a todos os atores negros. Acredito que a população negra comemora ao ver nossa raça retratada na TV de forma digna, sem discriminação e em igualdade de condições. Algo tem que ser feito para o bem, porque não dá pra negar a participação da nossa raça na sociedade. Somos negros, temos o samba, a dança, a comida, e tantas coisas mais.
Que dica você deixa pra quem almeja se tornar ator?
Quando se tem uma paixão deve -se  lutar por ela, batalhando verdadeiramente. Eu vim de uma origem humilde, onde nunca tinha visto teatro,  quando vi me apaixonei, coloquei na minha cabeça que eu queria viver de atuar e representar. Estudar, procurar pessoas que compartilhem de suas ideias, entrar num bom grupo de teatro, ao mesmo tempo fazer um curso de artes cênicas. Algo importante nessa profissão é nunca esperar por ninguém, por nada! Procurar ir à luta, acreditar em nossos sonhos é investir e meter a cara nesse competitivo mercado de trabalho. Quando tiver uma oportunidade, agarre com unhas e dentes! Estar preparado tecnicamente, quando a oportunidade chegar não a solte jamais! Esse é o conselho que deixo para os meninos e meninas que querem seguir essa profissão de ator e atriz.

Antes de finalizarmos a nossa tradicional pergunta: Quais foram às novelas que você mais gostou de assistir?
Olha, a primeira novela que eu assisti e adorei foi Selva de Pedra, da saudosa Janete Clair. Me marcou muito também a novela O Bem amado, na qual eu não esqueço do Paulo Gracindo, e  o Lima Duarte impagável na pele do pistoleiro Zeca Diabo. (risos) Eu me lembro que o Rogério Froes era um padre, anos depois trabalhei com ele. Foi maravilhoso, era um sonho que eu tinha desde menino: conhecer  e trabalhar com pessoas que foram meus ídolos ,que são referências pra mim ! Então, outra novela que achei linda foi Renascer, que tinha uma trilha sonora magnifica. Não posso me esquecer de Escrava Isaura, que foi dirigida pelo Herval Rossano e adaptada pelo Gilberto Braga.

Para encerrar, boa sorte na vida e que ela seja um sucesso!
Eu agradeço muito o seu chamado Vinícius. Nós precisamos de vocês, abração!
(Locação: Agradecimentos ao CCBB e Livraria da Travessa Centro – RJ.)

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Mãos e coração na arte
Ela é uma das atrizes mais simpáticas que eu já conheci. Dona de um imensurável talento, ela é muito mais que uma atriz, é também dubladora, locutora e ainda uma artista plástica de ‘mão cheia’. Ela encanta os fãs sem se conformar jamais com os limites da arte de representar. Mesmo em seus momentos menos inspirados Nica Bomfim  nunca deixou de ser profundamente humana e ter seu jeitinho carinhoso e sua alma universal.
Texto: Vinícius Sylvestre
Fotos: Luciene Silva

Ela vem caminhando sorridente, mais o porte não esconde: é Nica Bomfim minha “Entrevistada Especial”, com nuances de seu tipo alto-astral, mas que a estigmatiza como atriz de várias facetas. Aos 56 anos, Nica está feliz e aguardando novos desafios profissionais. Mais do que isso: ela já está envolvida em novos projetos como teatro, e futuramente, cinema. É uma mulher humilde, tranquila, rica de histórias, com quem se conversa em uma livraria por mais de uma hora, sem ter vontade de ir embora, sempre querendo ouvir mais. Só que a noite se vai, e vento e chuva se aproximam. O que eu posso fazer? Internautas e simpatizantes do “Só Quero Novelas”, tenho o prazer que vocês confiram essa maravilhosa entrevista de Nica Bomfim.
Você é atriz e artesã. O que surgiu primeiro na sua vida: o artesanato ou a arte de atuar?
Olha, eu acho que o artesanato surgiu junto comigo desde pequenininha eu gostava muito de mexer com as mãos de fazer coisinhas, trabalhinhos, bonequinhos, pequenas coisas... E no bandeirantismo, que hoje em dia o movimento já deve está acabado, na época era dividido (as meninas eram bandeirantes, e os meninos eram escoteiros). Eu comecei a participar ainda menina, e lá os lideres estimulavam muito o trabalho manual, eu aprendi a fazer esse tipo de arte, e levei isso pra vida, sabe! Sempre gostei de fazer bonequinhos para presentear os amigos. Daí comecei a trabalhar com papeis e outros materiais, eu mesma fui desenvolvendo a técnica de papel que utilizo. Quando faço novela eu faço bonecos dos personagens pra presentear os colegas de elenco.
O que você destacaria do seu trabalho na novela “Amor Eterno Amor” (Rede Globo/2012)?
Olha, a novela em si, foi muito gostosa de fazer. O ambiente de gravação era maravilhoso. Foi a segunda vez que trabalhei com a dupla Beth Jhin e Papinha (Rogério Gomes, diretor), que são duas pessoas especiais e com um astral maravilhoso, que atraem pessoas legais em torno da equipe.  Foi uma novela que não teve problemas, estrelismo, frescura, a gente se divertia muito durante as gravações, a gente gostava muito de estar juntos, sabe! Nossa foi muito bom! E a minha personagem a Deolinda era muito agradável, com um grande extinto maternal, eu acho que a Beth, autora da novela, tem essa impressão ao meu respeito, pois foi a terceira vez que fiz uma mãezona numa novela dela. A Beth sempre costuma implantar nas suas novelas campanhas subliminares com questões importantes, ela acredita muito na questão da adoção, e nas três novelas que ela assinou, ela me fez defender essa ideia, na qual minhas personagens adotava crianças, sabe! Isso me deixa muito feliz. Passar pro público essa mensagem positiva. O romance da Deolinda com o Antônio era uma gracinha. Foi ótimo, muito divertido. 
Como surgiu a ideia de criar os bonecos das personagens de “Amor Eterno Amor”? E como foi a repercussão disso entre o elenco da novela?
Essa coisa de fazer os bonecos dos personagens, eu já faço a muito tempo, quando comecei a fazer teatro eu fazia bonecos pra alguns colegas e tal. Agora em novelas, quando foi em (Eterna Magia) eu fiz alguns personagens inclusive os diretores da novela, em especial os do meu núcleo. Já em (Escrito nas Estrelas) só consegui fazer três bonecos, na época eu estava sem atelier então não consegui fazer muitos. Nessa novela quando comecei a fazer e postar no facebook a coisa se multiplicou é virou uma doideira. Os próprios atores da novela (Amor Eterno Amor) começaram a saber que eu tinha feito bonecos das personagens para os internautas, então começaram a me pedir pra fazer pra eles também (risos), daí eu não dei conta de fazer todos porque eram 56 personagens só consegui fazer 40. Alguns colegas que já tinha trabalhado comigo, não fiz bonecos porque eles já tinham. Mas a ideia é antiga e todo mundo gosta.
Por falar em “Amor Eterno Amor”, você já atuou em outras novelas da autora Elizabeth Jhin que foram: “Eterna Magia” em (2007) e “Escrito nas Estrelas” em (2010). Como você avalia o texto dessa querida novelista?
Tive o imenso prazer de participar das três novelas autorais da Beth. Ela é uma pessoa muito sensível, como ‘ser’ ela é maravilhosa, uma senhora simples, mineirinha meio encabulada, sabe! Uma pessoa de coração maravilhoso e essas coisas transparecem muito nos textos dela, e ela gosta de desenvolver o tema espiritualista. Na primeiro novela da Beth, ela fez uma coisa com a religiosidade, na qual ela focou na religião Wicca, que e a religião das bruxas. Apesar da Beth ser católica ela pesquisa sobre outras religiões, ela tem um interesse pela espiritualidade em geral. E agora ela quer fazer uma trilogia com base no tema espiritualista focado na doutrina espírita kardecista, na qual ela tem um grupo de pessoas praticantes da religião que dão todo suporte necessário. E a Beth faz isso com muita seriedade porque o texto dela é sensível, delicado, o público percebe isso. As novelas dela transmitem mensagens do bem, positivas, super bacanas. Enfim ela apresenta ao público histórias de amores de outras vidas, relações fortes e de bondade. Eu sou suspeita pra falar! (risos)

Que lembranças você tem das participações nos programas: “Os Trapalhões”; “Chico Anísio Show”; “A Turma do Didi”; “Zorra Total”; entre outros... Todos de humor apresentados na TV Globo?
A maior parte da minha carreira foi na linha de humor. A minha estreia na TV Globo foi no programa Chico Anysio Show em (1978), fazendo participações em alguns quadros. Eu me divertia muito por que sempre fui brincalhona e sou comediante no meu dia-a-dia. Gosto de fazer piadas, falar bobagens, imitar as pessoas, me idêntico e gosto de trabalhar com humor. Ter trabalhado com Chico Anysio foi um premio, pois o Chico é o mestre dos mestres, de uma criatividade invejável, dono de uma generosidade imensa e um talento inigualável. Torço para que apareça outro igual ao Chico (Anysio), mas parece que será difícil. Agora, ter trabalhado com os quatro trapalhões: Didi, Dede, Mussum e Zacarias, foi muito divertido, eles eram incríveis. E fazer parte dessa linha de humor foi o que me manteve na carreira por todos esses anos. Só tenho a agradecer!

 A peça “Amor” encenada em (1983/1984), escrita por Oduvaldo Vianna (pai) e, dirigida por Marco Antônio Palmeira, marcou a sua vida, pois foi fazendo ela que você engravidou de sua filha Bebel Mesquita. Qual era o mote da peça? E como era a sua relação com o elenco?
Foi uma experiência muito legal, porque a peça era de época, com uma nuance clássica. Além de ser uma peça ótima, com um elenco muito querido, costumo dizer que foi “fazendo amor” que eu fiquei grávida da minha filha, Bebel. Ela foi feita nas coxias! (risos)

 Como você lida com a fama e com as críticas?
Eu não tenho muita dificuldade com isso não. Primeiro porque eu não me acho uma pessoa tão famosa. Gosto de lhe dar com gente, sabe! Eu converso muito, e gosto de receber o carinho transmitido dos fãs, porque é isso que vale apena nessa carreira. Ter esse retorno positivo do publico é muito gratificante. Eu adoro bater papo com as pessoas na internet, sempre respondo todo mundo! Minha filha chega a dizer que eu tenho uma terceira profissão, porque eu gosto muito de interagir com os jovens. Receber e trocar carinho pela internet, é muito legal. Agora, sobre as críticas não me chega aos meus ouvidos críticas ao meu respeito, não. (risos) E quando chegar eu vou procurar aprender com elas.

 Você participa ou prática alguma religião?
Eu sou católica de formação a vida inteira. Já participei muito de movimento jovem e tal. Hoje em dia, eu estou afastada, digamos que um pouco preguiçosa, me entende! (risos) Mas eu acho que a gente deve sempre procurar fazer o bem, mais do que você tá numa igreja rezando, podemos ajudar, desenvolver a caridade, procurar fazer alguma coisa boa para alguém. Sempre que tenho oportunidade gosto de desenvolver a caridade, mas essas coisas a gente não fica falando, né! (risos)


 Uma personagem sua que caiu nas graças do público foi a Magali da novela “Escrito nas Estrelas” (TV Globo/2010) que era fã do cantor Fábio Jr. Como foi o processo de construção dessa personagem?
A Magali foi uma personagem sensacional. Era uma dona de casa muito alegre, que tinha uma casa cheia de parentes, muitos filhos e netos. Eu me lembrava muito da minha avó, que era uma senhora portuguesa, alias muito parecida comigo fisicamente. Vovó tinha uma casa onde toda a família se reunia. Relembrei muito o passado. Pena que no final da novela não conseguimos fazer a cena do encontro dela com o Fábio Jr. Acho que foi a agenda dele que não bateu com os horários de gravação. Mais era uma delicia, ela ficava agarrada nos discos do Fábio Jr. cantarolando as músicas dele com um carinho danado. E ela era uma mãezona que cozinhava pra toda a família, cheguei a engordar horrores naquela novela. Mas foi muito bom. O Xaxa (José Rubens Chachá), fazia o meu marido, um colega de trabalho em tanto!

 Qual é o seu esquema para decorar o texto quando está gravando novela?
Cada ator tem o seu jeito para decorar. O meu eu escrevo a mão, copiando mesmo. Isso me ajuda a decorar. Tem gente que faz desenho na beira do texto, coisas que fazem lembrar, tem outros que gravam e depois ouvem. O meu sistema é antigo mesmo, porque eu decoro rapidamente.

Foram várias novelas, entre as quais estão, “Amor Eterno Amor” em (2012), “Bang Bang” em (2006), “O Clone” em (2001/2002), “Suave Veneno” em (1999), “Anjo Mau” em (1997/1998) e “História de Amor” em (1995/1996). E, agora, como está sua situação na TV Globo? Seu contrato é longo?
Participação maior mesmo foi em História de amor, na qual a Beth Jhin era colaboradora do Maneco (Manoel Carlos), eu só fui saber disso anos mais tarde. A própria Beth me contou. Na TV Globo a maioria dos atores tem contratos por obra. O meu encerrou agora, depois de Amor Eterno Amor, e vamos ver! Se Deus quiser que seja breve esse retorno para uma próxima novela.

Já faz algum tempo que você não atua no Cinema, sua última participação foi no premiadíssimo “Faca de Dois Gumes”, exibido em (1989). Tem planos de atuar novamente na ‘sétima arte’?
Eu fiz quatro filmes seguidos, e depois eu sai do Rio. Aconteceu que fui morar em Cabo Frio, lá eu trabalhei na área de cultura, e emagreci bastante, cheguei a perder 56 quilos numa dieta que fiz. Quando me ligaram para fazer cinema, eu estava magra, daí foi um deus nos acuda. (risos) A gente quer ficar bonita e esbelta, mais eles não deixam. Depois eu perdi o contato com o cinema, por que o negocio é você está no meio se não você vira carta fora do baralho. Agora, passado 24 anos, eu voltei definitivamente a morar no Rio e estou retomando os contatos com esse pessoal da indústria do cinema. Até porque o cinema vem crescendo bastante e com o fim da novela estou aberta a convites para voltar atuar no cinema.


Eu sei que você viveu em Cabo Frio (Região dos Lagos) durante vinte e dois anos. Que lembranças você tem daquela época?
Eu adoro Região dos Lagos, desde que nasci frequento aquele lugar, minha família tem uma casa em Iguabinha, e eu tenho parentes que moram lá. E no final de 1988 eu recebi o convite para assumir a diretoria cultural da região. Não pensei duas vezes, peguei minha filha, arrumei a mudança e fui pra lá feliz da vida. Minha filha nasceu lá, porque eu tenho amigos médicos que vivem lá, resolvi tela lá. Não me arrependo nenhum minuto, lá é uma gostosura, até porque eu me envolvi muito com a questão do patrimônio cultural daquela cidadezinha. Também trabalhei na área do meio ambiente. O bom e que Cabo Frio ainda é um lugar tranquilo, com menos violência. E minha paixão aquela região. Eu adoro!

Você sonha interpretar algum tipo específico de personagem?
As pessoas costumam falar que querem interpretar personagens de Shakespeare, ou então os personagens imortais da mitologia grega. Eu não, desde menina eu sonho em interpretar a dona Benta do Sítio do Picapau-amarelo. (risos) Eu agora estou na idade que já posso fazer. Eu sempre dizia, sabe! Era uma fixação que eu tinha na cabeça. Inclusive no remake da novela Pecado Capital, a Zilka Salaberry que imortalizou a dona Benta, fazia a governata da família Lisboa. E eu fui chamada pra fazer as cenas de flash-back da personagem Ba, que no caso era a Zilka mais jovem. Eu fiquei tão emocionada. E pra mim, foi um sinal de que talvez eu farei a dona Benta. (emocionada) Não sei se vão voltar a fazer o sítio na televisão, mais nem que seja no teatro ou no cinema um dia eu vou viver essa personagem.

Na novela “O Clone”, você teve uma participação notável como Dona Creusa. Nessa novela Glória Perez retratava temas culturais e sociais relevantes como: a cultura árabe, clonagem humana e dependência química. Você, na condição de profissional envolvida, acredita que as novelas podem ser consideradas um elemento sócio-cultural?
Sim, eu acredito que as novelas tem um papel importantíssimo na base cultural do Brasil. A novela atinge de tal maneira e tão profundamente todas as camadas e classes assumindo uma responsabilidade muito grande. O legal é que cada autor tem o seu estilo. A Glória Perez levanta temas e questões importantes. Ela defende também questões muito polêmicas. Inclusive a Beth assim como a Glória já fez em uma das suas novelas, mostrou o caso de crianças desaparecidas. No decorrer da trama, duas crianças foram encontradas, só isso vale tudo o que a gente fez nesses seis meses de gravação, foi sensacional! As novelas não podem se furtar de maneira alguma de usar dessa força que elas tem de conseguir mobilizar o público.

Conversando com pessoas próximas a você a gente descobre que você é uma pessoa gregária e comunicativa. Como é a sua relação com seus fãs?
Eu tenho o maior carinho. Converso e atendo a todos, principalmente via internet. Eu adoro tenho maior empatia pelos meus fãs. O que seria de nós artistas sem as pessoas que nos dão retorno. Acho que isso compensa na vida e também na carreira da gente.


Qual foi a novela que mais gostou de assistir?
Existem tantas novelas boas. Agora, uma inesquecível foi Antônio Maria, foi ótima com o Tony (Tony Ramos), outra que gostei muito foi Beto Rockfeller em preto-e-branco com o Tatá (Luiz Gustavo). De uns tempos pra cá, eu acompanhei e gostei de A Favorita era bem engendrada. O João Emanuel Carneiro é muito inteligente pra construir tramas, costumo dizer que ele gasta tudo no primeiro capítulo, mas ele costuma ter boas sacadas a cada capítulo. É muito criativo!

Que dica você deixa pra novas gerações que desejam seguir essa competitiva carreira artística?
Olha, o que eu digo pra meninada que me procura pela internet: Estudar, preocurar se preparar muito e sempre, por que ser ator não é só chegar e representar. E preciso ter um estofo, bagagem pra conseguir sobreviver e transmitir. A carreira artística não é fácil, muito menos um mar de rosas, é sim uma carreira estável um dia você tem contrato, no outro você não tem. Por mais sucesso que se faça é difícil. Se não tiver uma cabeça legal, um emocional bacana a pessoa enlouquece mesmo. Não pode achar que é brincadeira, é uma profissão séria. Enfim, o conselho que dou pra essa meninada é esse.

Para encerrar, boa sorte na vida e que ela seja um sucesso!
Obrigado pelo convite Vinícius. Assim como você, eu adoro uma telenovela, então a gente comunga desse mesmo gosto. Eu acho o seu blog um barato!
(Locação: Agradecimentos a Livraria da Travessa do Barrashopping – RJ.)

terça-feira, 18 de setembro de 2012

A vida das telenovelas ou as telenovelas da vida
 
No Brasil, não se sabe se a novela imita a vida ou se a vida vai no enredo da novela. Não há um dia em que as imagens da véspera tenham passado em vão, na verdade das conversas gerais. Nos espaços da rua e do trabalho, das casas e convívios sociais, o povo todo, o mais simples ou erudito, favelado, rústico, grã-fino ou intelectual, a gente inteira comenta o que se viu e ouviu na novela das oito. A novela é uma espécie de senha, código de comunicação, sinal entre todos, para a contemporaneidade. Copiam-se os modos dos atores, fazem-se modas e jeitos gerais, inventam-se gírias, cantam-se temas musicais. Horário nobre de televisão depois do Jornal Nacional, a novela é o jogo dos espelhos, o retrato do contemporâneo, o termómetro da gíria, do corpo e da cabeça. Autor de novela é estatuto de prestígio, grande ator/atriz é unanimidade nacional, jovem ator/atriz é promessa e revelação. Já em 1983, o poeta Carlos Drummond de Andrade consagrava a autora que fez da novela um género literário: “A morte de Janete Clair me dá ideia do fechamento de uma usina indispensável às necessidades do povo brasileiro. Usina de sonhos de consumo generalizado e da qual dependia bastante o equilíbrio psíquico de uma multidão sem acesso aos bens positivos da vida.”
A telenovela brasileira entretém como história inventada, ficção, rotina depois do telejornal e dos programas da noite. Hoje, tem uma audiência motivada pela excelência dos atores e da produção, pela atualidade dos temas tratados, pelo agrado do entretenimento, pelas emoções que distraem a tristeza dos dias. No dia 14 de abril de 1975, a estreia de Gabriela marcou uma outra revolução entre os brasileiros. Com a apresentação da primeira novela, houve um reencontro de todos, vivência da democracia conquistada. O romance de Jorge Amado transfigurado em televisão estimulou o convívio nas famílias, acordou uma nova consciência social. Os políticos suspendiam os trabalhos da Assembleia Constituinte, em frente da televisão. De repente, surgia uma nova sociedade, para além do serviço público de informação e esclarecimento político, educação de massas pela TV. Na novela descobriam-se afinidades com a realidade nacional, e o país com mais de 50 por cento de analfabetos iniciou-se em nunca ouvidas expressões, descobrindo a língua comum. Se em 1975 a livre expressão em Gabriela tinha incomodado o Governo Geisel, também em outras terras democráticas agitou os ânimos. A luta das mulheres pela liberdade, a vivência da sexualidade, a estética sensual do corpo. O machismo, a arbitrariedade dos poderes, a impunidade dos poderosos, a opressão das convenções foram propostas de discussão nacional.
Ao princípio, as novelas na televisão brasileira foram dramas ao gosto latino-americano. Amores fatais em exóticos cenários, misteriosas vidas, românticas sugestões seduziam os espectadores. À novela chegou a ousadia em 1951, com o histórico Lima Duarte a beijar na boca pela primeira vez, em Minha Vida me Pertence, censurado pelo austero Cardeal Arcebispo Arns, de São Paulo, e por um General do Exército.

Em 1968, Beto Rockfeller foi história de um pobre paulistano querendo ser milionário, em que cada personagem tinha o seu tema musical. Walter Avancini brilhou como realizador, Lima Duarte como ator e o povo adorou aquela atualidade. Anunciavam-se grandes mudanças na televisão. E o mais importante aconteceu em 1969, com Véu de Noiva, a novela de Janete Clair que passou a falar de brasilidade aos brasileiros. Regina Duarte estreava-se como protagonista na Globo, numa prévia da romântica personagem televisiva que seria a Namoradinha do Brasil. Com os “anos de chumbo” do Governo Médici, os autores descobriam a novela como denúncia, e a década de 70 foi fantástica, nos grandes títulos de ficção. Em O Bem Amado, de 1973, primeira novela brasileira a cores, a crítica social de Dias Gomes passava-se em Sucupira, com o Prefeito Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo) e o matador Zeca Diabo (Lima Duarte).

Em 1975, o realizador Walter Avancini enfrentou os intelectuais que desprezavam a novela por vulgarizar a obra literária e os puristas contra a pronúncia nordestina pela primeira vez falada em televisão, lutando pela aproximação entre o Sul e o Norte do Brasil. Descobriu Sonia Braga, teve a excelência da produção e dos atores, a modinha de Gabriela, na voz de Gal Costa.

A mensagem política desagradou à Censura. Zélia Gattai recorda: “Cortavam, trocavam, para ver se a Globo desistia de fazer a novela. Depois a Globo quis fazer Dona Flor, e a censura disse: chega de Jorge Amado.” Em 1985, o país celebra a democracia, o Presidente Tancredo Neves, a urgência de uma Nova Constituição. Censurada em 1975 pelo Governo Geisel, Roque Santeiro alcança agora médias de 60 milhões de espectadores. O autor Dias Gomes envolve o triângulo do poder na família e na religião. O padre, o coronel-fazendeiro, o prefeito da cidade discutem a mulher, a Igreja, um Brasil agora diferente. A Ninon de Cláudia Raia e a Porcina de Regina Duarte tornam-se novos símbolos sexuais. “Falsa, Porcina é linda e querida por isso”, garante Dias Gomes, enquanto todo o Brasil imita a sua exuberância.

Outra virada se deu em 1988/1989, quando Vale Tudo, de Gilberto Braga, abriu com a música Brasil, de Cazuza, hino popular de indignação. Em muitas linguagens o diziam Reginaldo Faria, Renata Sorrah, Regina Duarte, Glória Pires, Beatriz Segall. “Quem matou Odete Roitman?”, perguntou-se até ao fim.

Nos anos 90 brilhou o autor Benedito Rui Barbosa, com O Pantanal, a revelar o corpo de Cristiane Oliveira. Com Renascer, de 1993, o ódio do fazendeiro interpretado por Antônio Fagundes contra o filho vivido por Marcos Palmeira. Com O Rei do Gado, em 1996, Antônio Fagundes na pele de Bruno Mezenga, apaixonado por Patrícia Pillar. Com Terra Nostra, os italianos em São Paulo, contracenando Raul Cortez, Ana Paula Arósio, Thiago Lacerda e o mito Maria Fernanda Cândido. Houve novelas com casos urbanos de família, conflitos de ideias, novos comportamentos. Drogas, alcoolismo, homossexualidade, vícios, violência. Heróis e vilões em confronto, e o Brasil em suspense, até ao último capítulo. Depois de 2000, os autores Gloria Perez e Manoel Carlos continuam a tomar a atualidade na sociedade brasileira. Laços de Família, O Clone, Mulheres Apaixonadas, América, Páginas da Vida, Caminho das Índias e Viver a Vida demonstram que os ritmos humanos são universais, em fases felizes ou adversas da vida.

Só em 2012, três novelas da emissora levam a assinatura de estreantes: A Vida da Gente, de Lícia Manzo, Cheias de Charme, de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, e Lado a Lado, a próxima das seis, que será escrita por João Ximenes Braga com colaboração de Cláudia Lage. No ano que vem, outro novato, o colaborador de Manoel Carlos Fausto Galvão, vai ocupar a faixa das seis. E ainda vem novidade lusitana por aí: esta semana, no Twitter, o veterano Aguinaldo Silva anunciou que o português Rui Vilhena vai estrear em breve uma novela na Globo.

A enxurrada de nomes novos é algo raro para uma emissora que nos últimos 47 anos, desde a estreia de seu primeiro folhetim, Ilusões Perdidas (1965), se baseia numa espécie de panteão de novelistas. Não que a Globo não investisse em renovação, mas ela nunca o fez como agora. A emissora criou uma Oficina de Autores em 1990, com vistas a reciclar a equipe, mas foi apenas a partir dos anos 2000 que a engrenagem operada por dramaturgos como Cassiano Gabus Mendes, Walter Negrão, Janete Clair, Silvio de Abreu, Glória Perez, Gilberto Braga e Ivani Ribeiro começou a receber combustível novo. A emissora começou arriscando um estreante a cada dois anos, intervalo que recentemente caiu para um ano. 
 O coautor de Insensato Coração e Paraíso Tropical conta que foi escolhido por Filipe Miguez e Izabel de Oliveira para supervisioná-los em Cheias de Charme. A prática tem se tornado cada vez mais comum e é uma maneira de os autores da velha guarda passarem, aos poucos, o bastão à nova geração. “Eles trazem mais vivacidade às tramas, escrevem cenas curtas e ágeis”, diz Linhares.
A influência do cinema também é uma marca registrada de integrantes da nova geração, como João Emanuel Carneiro, autor de Avenida Brasil, sua quarta trama como autor titular. “Além de ter ritmo narrativo acelerado, as novelas de João Emanuel são exemplos claros da riqueza com que os personagens são criados. O maniqueísmo não é tão marcado, essa fórmula de bom versus mal está desgastada e os novos autores dão saídas mais interessantes para isso”, diz o roteirista de TV Flavio de Campos, que coordenou por 22 anos a Oficina de Autores da Globo.
Tutela criativa – Em comum, a maioria dos autores estreantes tem no currículo a colaboração com um novelista renomado, do qual carregam o legado. O carioca Filipe Miguez colaborou em quatro novelas de Aguinaldo Silva – Duas Caras (2007), Senhora do Destino (2005), Porto dos Milagres (2001) e Suave Veneno (1999) – e não nega que a experiência moldou seu estilo. A tática de se espelhar em um autor mais experiente é antiga. A diferença é que, hoje, a emissora oficializou a tutela dos autores experientes ao promovê-los a supervisores dos novatos, como ocorreu com Ricardo Linhares.
Se por um lado atende a uma necessidade de reciclagem de temas e abordagem e de reposição de autores que estão envelhecendo, por outro a abertura para estreantes supre uma demanda de produção gerada pelo novo formato das novelas. Hoje, os capítulos dos folhetins são maiores: nos anos 1990 e primeira década de 2000, a novela das oito ficava 50 minutos no ar, hoje fica 1h10. E as tramas das seis e das sete estão mais curtas, o que implica um número maior de enredos por ano. 
                                                                                                                            Por Vinícius Sylvestre