sábado, 13 de outubro de 2012

Um ator de conteúdo
“Ser ator é uma necessidade existencial, embora tenha encontrado muitas dificuldades nesta trajetória. Porém, as dificuldades sempre foram menores do que minha vontade de realizar este sonho”, disse o simpatissíssimo ator Déo Garcez (Deolindo Rodrigues Garcez), de 45 anos, mas com cara de adolescente e corpão de menino do Rio, que venceu todas as fronteiras e preconceitos de São Luís do Maranhão, tem participado de filmes, novelas e seriados de TV, contracenando com grandes nomes da televisão brasileira.
Texto: Vinícius Sylvestre
Fotos: Luciene Craveiro
Apesar de volta e meia estar presente nas telas, o ator afirma que os convites não surgem por acaso. Segundo ele, a batalha é diária e a cada dia tem que matar um leão, ou seja, tem que levar seu currículo, fazer testes e esperar ser chamado. Ator desde os 11 anos de idade, Déo está vivendo um momento feliz no universo infantil , interpretando o senhor Marcos Morales, no remake de “Carrossel”. Mas em 2010, com a nova montagem do espetáculo "Morte Sobre a Lama", de Ricardo Torres que participou da “8ª edição do Festival de Teatro da Cidade do Rio de Janeiro”, Déo recebeu o prêmio de melhor ator. Nessa entrevista exclusiva, o ator fala sobre sua carreira, o preconceito existente na televisão e dá conselhos para quem está ingressando na profissão.
Déo, como você descobriu sua vocação pra carreira artística?
Um grupo teatral levou a minha escola para assistir uma peça infanto-juvenil lá em São Luís do Maranhão. Na época eu tinha 11 anos, e ao assistir aquela peça eu me apaixonei pelo teatro. Quando a peça terminou, procurei a bilheteria e me apresentaram o diretor que era o Reynaldo Faray, um homem muito importante nas artes e na cultura de São Luís do Maranhão. No ano seguinte fiz o curso de iniciação teatral com o Faray, que me deu uma ampla bagagem cultural. Estreei no palco do Teatro Arthur Azevedo com a peça Flicts, de Ziraldo, e não parei mais de representar. Trabalhei muito nesta área, depois fui pra Brasília , continuei neste ramo  , até ingressar na faculdade de teatro. Quando vim para o Rio de Janeiro trabalhei com teatro e televisão.

Você começou sua carreira na televisão no final dos anos 70, integrando o elenco do programa “Lagartixa já era, Virou Borboleta”, de autoria e direção da Lêda Nascimento. Que lembranças você tem daquela época?
Era um programa infantil com bonecos gravado na TV E. As lembranças são as melhores possíveis! Eu era pré-adolescente, cheio de vontade ,  sem preocupação nenhuma com resultados, sabe? Estava amando descobrir a arte teatral. Foram lembranças que nortearão a minha vida. Fazer televisão era uma coisa mágica. Foi tudo! (risos)

O que é mais difícil para um ator em inicio de carreira?
Acho que a colocação nesse competitivo mercado de trabalho. Claro, existe a dificuldade do aprendizado e também de encontrar boas escolas de teatro, bons profissionais que ensinem verdadeiramente o trabalho de um ator, preparar o iniciante tecnicamente, isso é uma grande dificuldade, encontrar os profissionais certos para aprender como fazer!

Sua primeira novela na teledramaturgia brasileira foi “Xica da Silva” (TV Manchete/1996). Como surgiu o convite pra você interpretar o mucamo Paulo?
Eu tinha chegado no Rio e já estava acontecendo a pré- produção da novela. A produtora de elenco me ligou,  dizendo que o Walter Avancini estava fazendo testes com atores para o papel. Fiz o teste com inúmeros atores cariocas e fui escolhido sem tem a menor experiência com novela. Foi meu primeiro personagem na televisão, numa oportunidade maravilhosa. Antes tinha feito um curso com o Wolf Maya e outro com a Tizuka Yamazaki de interpretação para vídeo e TV. Em Brasília antes de vir para o Rio, eu  já tinha feito dois cursos de teatro onde fui bacharelado em interpretação teatral e licenciado em artes cênicas. No curso de bacharelado em Brasília, tive a felicidade de ser aluno da eterna Dulcina de Moraes. Isso é um luxo, privilégio, é uma riqueza muito grande, uma bagagem impressionante e maravilhosa!

E como era seu contato com o temido Walter Avancini durante a novela “Xica da Silva”?
Sempre estava em contato com o Avancini. Ele era considerado um dos grandes profissionais da teledramaturgia. Foi tranquilo, apesar de saber que ele era um diretor muito ríspido, muito exigente, mas também por outro lado muitíssimo competente. Ele gostava do meu trabalho, tanto é que me escolheu a partir daquele teste. No primeiro contato , ele me colocou pra ler os capítulos que já estavam em minhas mãos, e juntos nós fomos descobrindo, por exemplo, o olhar do personagem. Era um diretor que trabalhava muito os detalhes de criação, sabe? Buscando verdadeiramente a essência de cada personagem! Sentamos em sua sala, ele pediu pra eu ler o texto , pediu pra eu dar uma respiração, um olhar para a personagem, e aí foi o momento que ele disse: “É isso!”. E a personagem foi surgindo e acontecendo! (risos)
Você acha que a novela distancia o público da realidade?
Talvez sim, quando se glamoriza a questão de classes sociais inferiores. O pobre mostrado na novela , não é o mesmo da vida real. Acredito que tenha um certo glamour, sim. O que já e o contrário do cinema que mostra a verdade nua e crua! Já a novela acaba glamorizando a pobreza.

Um personagem seu que eu adorava era o Ezequiel dos Anjos da novela “O Cravo e a Rosa” (TV Globo/2000) que era o assistente apaixonado da malvada Marcela (Drica Moraes). Como foi participar dessa maravilhosa novela?
Viver o Ezequiel foi maravilhoso. Década de 20. Novela de época, que exige muito mais do ator. Eu tinha vindo de Xica da Silva, na qual eu vivi um escravo submisso e ignorante. E no Cravo e a Rosa, que também era escrita pelo Walcyr Carrasco e dirigida pelo Avancini, eu fiz um personagem oposto do que tinha vivido. Um homem estudado na Sorbonne em Paris, sofisticado, que ensinava boas maneiras... Eu sou um ator que adoro essa possibilidade da diversidade de personagens, perfis diferentes, é um desafio que eu particularmente adoro. Tanto é que você gostou, né? (risos)

Numa das suas inúmeras entrevistas, você disse que "trabalhava em duas escolas municipais de Ensino Fundamental". Você era professor?
Sim, dei aulas de teatro durante onze anos aqui no Rio de Janeiro. E durante um ano em Brasília. Quando  fiz o curso  de teatro lá,  fiz também o bacharelado , interpretação, e a licenciatura. Dei aulas de artes cênicas para alunos de 1º e 2º grau. Tenho um amigo que fala sempre: “Déo, depois que você começou a dar aula, se tornou um outro ator.” Porque é aquela história, o professor é um ator por natureza. A cada turma é um desafio diferente. Pra mim foi uma bagagem muito grande! E foi ideal durante 11 anos.

Então, como você encara esse descaso que o governo tem com relação à educação no Brasil?
Encaro isso de uma forma muito crítica. Acho terrível a falta de educação, cidadania... Isso está refletido na violência das ruas sujas, na falta de consciência no comportamento social, os analfabetos culturais... É triste saber que ainda temos um percentual bem alto de analfabetos. Um real investimento deve ser feito a fim de mudar essa realidade. Eu sou daqueles que tive a oportunidade de estudar numa escola pública de ótima qualidade, tive excelentes professores, tanto que o nome da escola era: ‘Escola Modelo Benedito Leite’, lá no Maranhão era uma escola padrão. Isso fez despertar em mim o meu dom artístico. A educação está ligada diretamente a cultura, as artes, ao desenvolver os dons e as habilidades de cada um, né! Só tenho à agradecer.
Recentemente você participou do longa metragem “Ódio” (2012), dirigido por Luiz Rangel. Como foi a experiência em viver a personagem Vanusa?  Tem planos de atuar novamente na ‘sétima arte’?
Foi fantástico! Eu não conhecia o Luiz Rangel. E  quando me chegou esta personagem , foi de uma indicação do meu amigo e ator Dionísio Correa que tinha feito Canavial de paixões comigo no SBT. Ao assistir meu link,  o Rangel gostou e mandou me chamar. Vanusa era um travesti do filme. Era um remake dos anos 70. Foi uma brincadeira muito gostosa, que deu super certo,  porque todos que estavam no set de gravação  riam muito com a Vanusa. Eu a criei,  e o trabalho virou um jogo que deu certo. Eu tô louco pra assistir o resultado nas telas! Já tenho dois filmes pra fazer ano que vem, um deles é o Inferno setenta, do Rangel, no qual começaremos a gravar as primeiras tomadas ano que vem. Sobre o outro filme ainda não posso falar ,porque o projeto ainda está muito embrionário!

A novela "Mutantes" da Rede Record foi o terceiro texto do autor Tiago Santiago em que você trabalhou. Como foi participar da trilogia desse autor?
Realmente, foi um personagem interessante. Era um professor de história, homossexual, usava tranças e tal. Foi um desafio profissional que eu curti muito fazer. Foi curioso porque esse personagem viajava no decorrer da novela e voltava no final, continuando em outra novela do mesmo autor, que era Mutantes. Com outras informações, diferente, mas com a mesma essência. Foi uma experiência nova passar de uma novela pra outra, com o mesmo personagem.

A voz de alguns artistas se rebelam contra a gestão governamental da cultura desse governo Lula/Dilma que pouca coisa faz, mas entre o exagero dessa expressão e a covardia dos que aderem, sem mais, ao governismo – qualquer governismo –, a sociedade civil deve ficar com os exageros. O que você acha que estamos vivendo uma crise cultural no Brasil?
Realmente poderíamos ter mais oportunidades. Um exemplo é a Lei Rouanet. Eles poderiam facilitá-la para que possa democratizar mais a cultura especialmente no teatro. É uma dificuldade muito grande conseguir patrocínio, quando se não é um global, entende? Eu acho que por falta desse berço, de preparação da arte nas escolas e de ensino regular. Também falta o apoio governamental que estimule a cultura. Precisamos cobrar mais das autoridades, essa postura de efetivar algo mais eficiente a favor da cultura brasileira. Investir mais no teatro, nas artes plásticas, no cinema que tá tendo mais visibilidade, né? A gente vê as coisas acontecerem muito no Rio e São Paulo, e o país não é só esses dois estados. Espero que a democratização não fique apenas nas mãos dos mesmos grupos, também devemos lembrar que o Nordeste o Centro-Oeste precisa de apoio governamental. Ainda tenho esperança de que isso vá acontecer!

Atualmente você vem dando um show de interpretação como o senhor Marcos Morales na novela “Carrossel” (SBT/2012). O que você pode adiantar sobre os rumos desse seu maravilhoso personagem?
A princípio eu não tinha grandes expectativas, quando fui convidado para integrar o elenco. Inclusive tive a felicidade de ser escolhido pela Íris Abravanel (autora de Carrossel), esposa do Sílvio Santos. Na primeira versão, a personagem era um ator mais velho na faixa dos 65 anos, branco e tal. Daí eu percebi que a autora esta fazendo um contraponto com o ator que fez antes a personagem e eu, que sou um ator mais novo e negro. É uma novela que está sendo feita para unir a família brasileira. As crianças chamam os pais para assistirem, virou uma febre de Carrossel! As crianças aprendem sobre educação, cidadania, boas maneiras, ética... Quando a novela estreou , a repercussão nas mídias sociais foi imediata. Porque eu acho que novela não é só pra divertir, mas também para ser pensada, sabe? O senhor Morales é um homem do bem, e que me traz um retorno muito positivo. Isso me deixa muito feliz, apesar de gravar pouco. Digamos que seja uma participação especial. (risos)
O que você ressaltaria do texto da autora Íris Abravanel? E como está sendo essa parceria de sucesso?
Ressalto a contemporaneidade que ela está dando na novela ,que deixa a obra com a cara do Brasil. A questão do preconceito, o bullying, o fato de me escolher pra fazer o senhor Morales. Também ressalto a reflexão da alegria, na qual ela usa para retratar as histórias daquelas crianças. Aborda temas sérios e necessários para serem discutidos de uma forma alegre.
Você é um dos atores mais comentados e queridos do público GLS. Como é a sua relação com essa turma?
Isso se deve em relação a novela Xica da Silva, né! Quando minha personagem participava de um ardente triângulo amoroso com as personagens da Giovanna Antonelli e do Guilherme Piva, onde acontecia uma relação homossexual e bissexual. Esse personagem se tornou um ícone para o público GLS. Eu sou uma pessoa livre de preconceitos, até porque a essência da arte e do artista é o altruísmo e também a generosidade. Vivemos no século XXI,  onde eu tenho certeza que os tabus devem ser rompidos. Então ,  acho que é obrigação do artista ser generoso.

Para um ator negro ainda não é nada fácil, mas nos últimos tempos temos visto alguns pequenos avanços. Alguns prêmios já foram entregues a alguns atores negros. O que isso representa para você? Será realmente um incentivo ou uma maneira deles dizerem que estamos falando demais?
Prefiro acreditar que seja mesmo um reconhecimento de valores, dos talentos, torcendo pra que esse avanço seja mais rápido e que as portas possam se abrir mais e mais. Não apenas a alguns atores negros, mas a todos os atores negros. Acredito que a população negra comemora ao ver nossa raça retratada na TV de forma digna, sem discriminação e em igualdade de condições. Algo tem que ser feito para o bem, porque não dá pra negar a participação da nossa raça na sociedade. Somos negros, temos o samba, a dança, a comida, e tantas coisas mais.
Que dica você deixa pra quem almeja se tornar ator?
Quando se tem uma paixão deve -se  lutar por ela, batalhando verdadeiramente. Eu vim de uma origem humilde, onde nunca tinha visto teatro,  quando vi me apaixonei, coloquei na minha cabeça que eu queria viver de atuar e representar. Estudar, procurar pessoas que compartilhem de suas ideias, entrar num bom grupo de teatro, ao mesmo tempo fazer um curso de artes cênicas. Algo importante nessa profissão é nunca esperar por ninguém, por nada! Procurar ir à luta, acreditar em nossos sonhos é investir e meter a cara nesse competitivo mercado de trabalho. Quando tiver uma oportunidade, agarre com unhas e dentes! Estar preparado tecnicamente, quando a oportunidade chegar não a solte jamais! Esse é o conselho que deixo para os meninos e meninas que querem seguir essa profissão de ator e atriz.

Antes de finalizarmos a nossa tradicional pergunta: Quais foram às novelas que você mais gostou de assistir?
Olha, a primeira novela que eu assisti e adorei foi Selva de Pedra, da saudosa Janete Clair. Me marcou muito também a novela O Bem amado, na qual eu não esqueço do Paulo Gracindo, e  o Lima Duarte impagável na pele do pistoleiro Zeca Diabo. (risos) Eu me lembro que o Rogério Froes era um padre, anos depois trabalhei com ele. Foi maravilhoso, era um sonho que eu tinha desde menino: conhecer  e trabalhar com pessoas que foram meus ídolos ,que são referências pra mim ! Então, outra novela que achei linda foi Renascer, que tinha uma trilha sonora magnifica. Não posso me esquecer de Escrava Isaura, que foi dirigida pelo Herval Rossano e adaptada pelo Gilberto Braga.

Para encerrar, boa sorte na vida e que ela seja um sucesso!
Eu agradeço muito o seu chamado Vinícius. Nós precisamos de vocês, abração!
(Locação: Agradecimentos ao CCBB e Livraria da Travessa Centro – RJ.)

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Mãos e coração na arte
Ela é uma das atrizes mais simpáticas que eu já conheci. Dona de um imensurável talento, ela é muito mais que uma atriz, é também dubladora, locutora e ainda uma artista plástica de ‘mão cheia’. Ela encanta os fãs sem se conformar jamais com os limites da arte de representar. Mesmo em seus momentos menos inspirados Nica Bomfim  nunca deixou de ser profundamente humana e ter seu jeitinho carinhoso e sua alma universal.
Texto: Vinícius Sylvestre
Fotos: Luciene Silva

Ela vem caminhando sorridente, mais o porte não esconde: é Nica Bomfim minha “Entrevistada Especial”, com nuances de seu tipo alto-astral, mas que a estigmatiza como atriz de várias facetas. Aos 56 anos, Nica está feliz e aguardando novos desafios profissionais. Mais do que isso: ela já está envolvida em novos projetos como teatro, e futuramente, cinema. É uma mulher humilde, tranquila, rica de histórias, com quem se conversa em uma livraria por mais de uma hora, sem ter vontade de ir embora, sempre querendo ouvir mais. Só que a noite se vai, e vento e chuva se aproximam. O que eu posso fazer? Internautas e simpatizantes do “Só Quero Novelas”, tenho o prazer que vocês confiram essa maravilhosa entrevista de Nica Bomfim.
Você é atriz e artesã. O que surgiu primeiro na sua vida: o artesanato ou a arte de atuar?
Olha, eu acho que o artesanato surgiu junto comigo desde pequenininha eu gostava muito de mexer com as mãos de fazer coisinhas, trabalhinhos, bonequinhos, pequenas coisas... E no bandeirantismo, que hoje em dia o movimento já deve está acabado, na época era dividido (as meninas eram bandeirantes, e os meninos eram escoteiros). Eu comecei a participar ainda menina, e lá os lideres estimulavam muito o trabalho manual, eu aprendi a fazer esse tipo de arte, e levei isso pra vida, sabe! Sempre gostei de fazer bonequinhos para presentear os amigos. Daí comecei a trabalhar com papeis e outros materiais, eu mesma fui desenvolvendo a técnica de papel que utilizo. Quando faço novela eu faço bonecos dos personagens pra presentear os colegas de elenco.
O que você destacaria do seu trabalho na novela “Amor Eterno Amor” (Rede Globo/2012)?
Olha, a novela em si, foi muito gostosa de fazer. O ambiente de gravação era maravilhoso. Foi a segunda vez que trabalhei com a dupla Beth Jhin e Papinha (Rogério Gomes, diretor), que são duas pessoas especiais e com um astral maravilhoso, que atraem pessoas legais em torno da equipe.  Foi uma novela que não teve problemas, estrelismo, frescura, a gente se divertia muito durante as gravações, a gente gostava muito de estar juntos, sabe! Nossa foi muito bom! E a minha personagem a Deolinda era muito agradável, com um grande extinto maternal, eu acho que a Beth, autora da novela, tem essa impressão ao meu respeito, pois foi a terceira vez que fiz uma mãezona numa novela dela. A Beth sempre costuma implantar nas suas novelas campanhas subliminares com questões importantes, ela acredita muito na questão da adoção, e nas três novelas que ela assinou, ela me fez defender essa ideia, na qual minhas personagens adotava crianças, sabe! Isso me deixa muito feliz. Passar pro público essa mensagem positiva. O romance da Deolinda com o Antônio era uma gracinha. Foi ótimo, muito divertido. 
Como surgiu a ideia de criar os bonecos das personagens de “Amor Eterno Amor”? E como foi a repercussão disso entre o elenco da novela?
Essa coisa de fazer os bonecos dos personagens, eu já faço a muito tempo, quando comecei a fazer teatro eu fazia bonecos pra alguns colegas e tal. Agora em novelas, quando foi em (Eterna Magia) eu fiz alguns personagens inclusive os diretores da novela, em especial os do meu núcleo. Já em (Escrito nas Estrelas) só consegui fazer três bonecos, na época eu estava sem atelier então não consegui fazer muitos. Nessa novela quando comecei a fazer e postar no facebook a coisa se multiplicou é virou uma doideira. Os próprios atores da novela (Amor Eterno Amor) começaram a saber que eu tinha feito bonecos das personagens para os internautas, então começaram a me pedir pra fazer pra eles também (risos), daí eu não dei conta de fazer todos porque eram 56 personagens só consegui fazer 40. Alguns colegas que já tinha trabalhado comigo, não fiz bonecos porque eles já tinham. Mas a ideia é antiga e todo mundo gosta.
Por falar em “Amor Eterno Amor”, você já atuou em outras novelas da autora Elizabeth Jhin que foram: “Eterna Magia” em (2007) e “Escrito nas Estrelas” em (2010). Como você avalia o texto dessa querida novelista?
Tive o imenso prazer de participar das três novelas autorais da Beth. Ela é uma pessoa muito sensível, como ‘ser’ ela é maravilhosa, uma senhora simples, mineirinha meio encabulada, sabe! Uma pessoa de coração maravilhoso e essas coisas transparecem muito nos textos dela, e ela gosta de desenvolver o tema espiritualista. Na primeiro novela da Beth, ela fez uma coisa com a religiosidade, na qual ela focou na religião Wicca, que e a religião das bruxas. Apesar da Beth ser católica ela pesquisa sobre outras religiões, ela tem um interesse pela espiritualidade em geral. E agora ela quer fazer uma trilogia com base no tema espiritualista focado na doutrina espírita kardecista, na qual ela tem um grupo de pessoas praticantes da religião que dão todo suporte necessário. E a Beth faz isso com muita seriedade porque o texto dela é sensível, delicado, o público percebe isso. As novelas dela transmitem mensagens do bem, positivas, super bacanas. Enfim ela apresenta ao público histórias de amores de outras vidas, relações fortes e de bondade. Eu sou suspeita pra falar! (risos)

Que lembranças você tem das participações nos programas: “Os Trapalhões”; “Chico Anísio Show”; “A Turma do Didi”; “Zorra Total”; entre outros... Todos de humor apresentados na TV Globo?
A maior parte da minha carreira foi na linha de humor. A minha estreia na TV Globo foi no programa Chico Anysio Show em (1978), fazendo participações em alguns quadros. Eu me divertia muito por que sempre fui brincalhona e sou comediante no meu dia-a-dia. Gosto de fazer piadas, falar bobagens, imitar as pessoas, me idêntico e gosto de trabalhar com humor. Ter trabalhado com Chico Anysio foi um premio, pois o Chico é o mestre dos mestres, de uma criatividade invejável, dono de uma generosidade imensa e um talento inigualável. Torço para que apareça outro igual ao Chico (Anysio), mas parece que será difícil. Agora, ter trabalhado com os quatro trapalhões: Didi, Dede, Mussum e Zacarias, foi muito divertido, eles eram incríveis. E fazer parte dessa linha de humor foi o que me manteve na carreira por todos esses anos. Só tenho a agradecer!

 A peça “Amor” encenada em (1983/1984), escrita por Oduvaldo Vianna (pai) e, dirigida por Marco Antônio Palmeira, marcou a sua vida, pois foi fazendo ela que você engravidou de sua filha Bebel Mesquita. Qual era o mote da peça? E como era a sua relação com o elenco?
Foi uma experiência muito legal, porque a peça era de época, com uma nuance clássica. Além de ser uma peça ótima, com um elenco muito querido, costumo dizer que foi “fazendo amor” que eu fiquei grávida da minha filha, Bebel. Ela foi feita nas coxias! (risos)

 Como você lida com a fama e com as críticas?
Eu não tenho muita dificuldade com isso não. Primeiro porque eu não me acho uma pessoa tão famosa. Gosto de lhe dar com gente, sabe! Eu converso muito, e gosto de receber o carinho transmitido dos fãs, porque é isso que vale apena nessa carreira. Ter esse retorno positivo do publico é muito gratificante. Eu adoro bater papo com as pessoas na internet, sempre respondo todo mundo! Minha filha chega a dizer que eu tenho uma terceira profissão, porque eu gosto muito de interagir com os jovens. Receber e trocar carinho pela internet, é muito legal. Agora, sobre as críticas não me chega aos meus ouvidos críticas ao meu respeito, não. (risos) E quando chegar eu vou procurar aprender com elas.

 Você participa ou prática alguma religião?
Eu sou católica de formação a vida inteira. Já participei muito de movimento jovem e tal. Hoje em dia, eu estou afastada, digamos que um pouco preguiçosa, me entende! (risos) Mas eu acho que a gente deve sempre procurar fazer o bem, mais do que você tá numa igreja rezando, podemos ajudar, desenvolver a caridade, procurar fazer alguma coisa boa para alguém. Sempre que tenho oportunidade gosto de desenvolver a caridade, mas essas coisas a gente não fica falando, né! (risos)


 Uma personagem sua que caiu nas graças do público foi a Magali da novela “Escrito nas Estrelas” (TV Globo/2010) que era fã do cantor Fábio Jr. Como foi o processo de construção dessa personagem?
A Magali foi uma personagem sensacional. Era uma dona de casa muito alegre, que tinha uma casa cheia de parentes, muitos filhos e netos. Eu me lembrava muito da minha avó, que era uma senhora portuguesa, alias muito parecida comigo fisicamente. Vovó tinha uma casa onde toda a família se reunia. Relembrei muito o passado. Pena que no final da novela não conseguimos fazer a cena do encontro dela com o Fábio Jr. Acho que foi a agenda dele que não bateu com os horários de gravação. Mais era uma delicia, ela ficava agarrada nos discos do Fábio Jr. cantarolando as músicas dele com um carinho danado. E ela era uma mãezona que cozinhava pra toda a família, cheguei a engordar horrores naquela novela. Mas foi muito bom. O Xaxa (José Rubens Chachá), fazia o meu marido, um colega de trabalho em tanto!

 Qual é o seu esquema para decorar o texto quando está gravando novela?
Cada ator tem o seu jeito para decorar. O meu eu escrevo a mão, copiando mesmo. Isso me ajuda a decorar. Tem gente que faz desenho na beira do texto, coisas que fazem lembrar, tem outros que gravam e depois ouvem. O meu sistema é antigo mesmo, porque eu decoro rapidamente.

Foram várias novelas, entre as quais estão, “Amor Eterno Amor” em (2012), “Bang Bang” em (2006), “O Clone” em (2001/2002), “Suave Veneno” em (1999), “Anjo Mau” em (1997/1998) e “História de Amor” em (1995/1996). E, agora, como está sua situação na TV Globo? Seu contrato é longo?
Participação maior mesmo foi em História de amor, na qual a Beth Jhin era colaboradora do Maneco (Manoel Carlos), eu só fui saber disso anos mais tarde. A própria Beth me contou. Na TV Globo a maioria dos atores tem contratos por obra. O meu encerrou agora, depois de Amor Eterno Amor, e vamos ver! Se Deus quiser que seja breve esse retorno para uma próxima novela.

Já faz algum tempo que você não atua no Cinema, sua última participação foi no premiadíssimo “Faca de Dois Gumes”, exibido em (1989). Tem planos de atuar novamente na ‘sétima arte’?
Eu fiz quatro filmes seguidos, e depois eu sai do Rio. Aconteceu que fui morar em Cabo Frio, lá eu trabalhei na área de cultura, e emagreci bastante, cheguei a perder 56 quilos numa dieta que fiz. Quando me ligaram para fazer cinema, eu estava magra, daí foi um deus nos acuda. (risos) A gente quer ficar bonita e esbelta, mais eles não deixam. Depois eu perdi o contato com o cinema, por que o negocio é você está no meio se não você vira carta fora do baralho. Agora, passado 24 anos, eu voltei definitivamente a morar no Rio e estou retomando os contatos com esse pessoal da indústria do cinema. Até porque o cinema vem crescendo bastante e com o fim da novela estou aberta a convites para voltar atuar no cinema.


Eu sei que você viveu em Cabo Frio (Região dos Lagos) durante vinte e dois anos. Que lembranças você tem daquela época?
Eu adoro Região dos Lagos, desde que nasci frequento aquele lugar, minha família tem uma casa em Iguabinha, e eu tenho parentes que moram lá. E no final de 1988 eu recebi o convite para assumir a diretoria cultural da região. Não pensei duas vezes, peguei minha filha, arrumei a mudança e fui pra lá feliz da vida. Minha filha nasceu lá, porque eu tenho amigos médicos que vivem lá, resolvi tela lá. Não me arrependo nenhum minuto, lá é uma gostosura, até porque eu me envolvi muito com a questão do patrimônio cultural daquela cidadezinha. Também trabalhei na área do meio ambiente. O bom e que Cabo Frio ainda é um lugar tranquilo, com menos violência. E minha paixão aquela região. Eu adoro!

Você sonha interpretar algum tipo específico de personagem?
As pessoas costumam falar que querem interpretar personagens de Shakespeare, ou então os personagens imortais da mitologia grega. Eu não, desde menina eu sonho em interpretar a dona Benta do Sítio do Picapau-amarelo. (risos) Eu agora estou na idade que já posso fazer. Eu sempre dizia, sabe! Era uma fixação que eu tinha na cabeça. Inclusive no remake da novela Pecado Capital, a Zilka Salaberry que imortalizou a dona Benta, fazia a governata da família Lisboa. E eu fui chamada pra fazer as cenas de flash-back da personagem Ba, que no caso era a Zilka mais jovem. Eu fiquei tão emocionada. E pra mim, foi um sinal de que talvez eu farei a dona Benta. (emocionada) Não sei se vão voltar a fazer o sítio na televisão, mais nem que seja no teatro ou no cinema um dia eu vou viver essa personagem.

Na novela “O Clone”, você teve uma participação notável como Dona Creusa. Nessa novela Glória Perez retratava temas culturais e sociais relevantes como: a cultura árabe, clonagem humana e dependência química. Você, na condição de profissional envolvida, acredita que as novelas podem ser consideradas um elemento sócio-cultural?
Sim, eu acredito que as novelas tem um papel importantíssimo na base cultural do Brasil. A novela atinge de tal maneira e tão profundamente todas as camadas e classes assumindo uma responsabilidade muito grande. O legal é que cada autor tem o seu estilo. A Glória Perez levanta temas e questões importantes. Ela defende também questões muito polêmicas. Inclusive a Beth assim como a Glória já fez em uma das suas novelas, mostrou o caso de crianças desaparecidas. No decorrer da trama, duas crianças foram encontradas, só isso vale tudo o que a gente fez nesses seis meses de gravação, foi sensacional! As novelas não podem se furtar de maneira alguma de usar dessa força que elas tem de conseguir mobilizar o público.

Conversando com pessoas próximas a você a gente descobre que você é uma pessoa gregária e comunicativa. Como é a sua relação com seus fãs?
Eu tenho o maior carinho. Converso e atendo a todos, principalmente via internet. Eu adoro tenho maior empatia pelos meus fãs. O que seria de nós artistas sem as pessoas que nos dão retorno. Acho que isso compensa na vida e também na carreira da gente.


Qual foi a novela que mais gostou de assistir?
Existem tantas novelas boas. Agora, uma inesquecível foi Antônio Maria, foi ótima com o Tony (Tony Ramos), outra que gostei muito foi Beto Rockfeller em preto-e-branco com o Tatá (Luiz Gustavo). De uns tempos pra cá, eu acompanhei e gostei de A Favorita era bem engendrada. O João Emanuel Carneiro é muito inteligente pra construir tramas, costumo dizer que ele gasta tudo no primeiro capítulo, mas ele costuma ter boas sacadas a cada capítulo. É muito criativo!

Que dica você deixa pra novas gerações que desejam seguir essa competitiva carreira artística?
Olha, o que eu digo pra meninada que me procura pela internet: Estudar, preocurar se preparar muito e sempre, por que ser ator não é só chegar e representar. E preciso ter um estofo, bagagem pra conseguir sobreviver e transmitir. A carreira artística não é fácil, muito menos um mar de rosas, é sim uma carreira estável um dia você tem contrato, no outro você não tem. Por mais sucesso que se faça é difícil. Se não tiver uma cabeça legal, um emocional bacana a pessoa enlouquece mesmo. Não pode achar que é brincadeira, é uma profissão séria. Enfim, o conselho que dou pra essa meninada é esse.

Para encerrar, boa sorte na vida e que ela seja um sucesso!
Obrigado pelo convite Vinícius. Assim como você, eu adoro uma telenovela, então a gente comunga desse mesmo gosto. Eu acho o seu blog um barato!
(Locação: Agradecimentos a Livraria da Travessa do Barrashopping – RJ.)