sábado, 28 de julho de 2012

Quando a literatura visita a ficção

 


  Cá entre nós, não sou a favor de remake. Porém, quando ele é feito pelo próprio autor original acaba ficando muito bom. Foi o que aconteceu com a novela “Sinhá Moça”.

  No livro “A seguir, cenas do próximo capítulo”, de André Bernardo e Cintia Lopes (Ed. Panda Books), o autor da novela Benedito Ruy Barbosa fala da escolha do elenco para a primeira versão de sua obra.

  Os jornalistas perguntaram ao autor se a história teria sido escrita sob encomenda para repetir o sucesso de “Escrava Isaura”, sua resposta me surpreendeu, leiam abaixo:

- “Foi isso mesmo. Na época, eu não queria fazer. Como também não queria trabalhar com o Rubens de Falco e a Lucélia Santos. Se pudesse, teria escolhido a Giulia Gam para ser a protagonista. Quando fiz o teste, falei: “É ela!”. Infelizmente, a Globo não deixou. A Lucélia encheu o saco durante a novela. A certa altura, chegou a dizer que não serviria de escada para os outros. Quando os atores souberam disso, ficaram loucos. Todos me ligaram para reclamar” – lembrou o autor.

  Porém, os telespectadores, que somos nós, adoramos a dupla e ainda mais a atriz Lucélia Santos. Ela é uma atriz muito querida por todos nós. Mas o autor deve ter tido lá as suas razões para dizer o que disse.

http://www.youtube.com/watch?v=713NHzxUbec&feature=player_embedded

  O romance “Sinhá Moça”, de Maria Dezonne Pacheco Fernandes (1910-1998), foi primeiramente adaptado para o cinema, com sucesso, em 1953 pelos estúdios da Vera Cruz e tendo Eliane Lage e Anselmo Duarte nos papéis centrais com direção de Tom Payne. Mas foi em 1986 que o romance tornou-se muito popular com a ótima superprodução adaptada por Benedito Ruy Barbosa (com colaboração de sua filha Edmara Barbosa) para o clássico horário das seis da TV Globo, que retornava ás novelas de época - que havia produzido tantos sucessos nos anos 70 sob a batuta do diretor Herval Rossano – estilo que havia sido abandonado em 1981, com a adaptação de Walter George Durst para o romance de Jorge Amado, “Terras do Sem Fim”.  O diretor Nilton Travesso assumia o comando do núcleo e convidou os diretores Jayme Monjardim e Reynaldo Boury para comandar a trama. Antes da estreia no Brasil, “Sinhá Moça” já tinha sua venda reservada para mais de 50 países, todos atraídos pela presença da dupla exportação formada pela atriz Lucélia Santos e pelo saudoso ator Rubens de Falco (1931-2008), hoje em dia ela já foi vista em mais de 90 países do mundo inteiro.

  Sonhadora e romântica, Sinhá Moça se apaixonou por Rodolfo (Marcos Paulo), um ativo republicano abolicionista. Ela conheceu o rapaz no trem, quando viajava de volta à Araruna depois de terminar seus estudos na capital da província. Assim como Rodolfo, Sinhá Moça tinha idéias abolicionistas e fazia críticas às atitudes do pai, lutando em defesa dos negros.

  Junto com Rodolfo e outros jovens abolicionistas, ela lutava pela libertação dos escravos. Durante a madrugada, Rodolfo, sob a identidade de Irmão do Quilombo, invadia as senzalas e libertou os negros, entregando-os às associações abolicionistas, que os orientavam. Nem mesmo Sinhá Moça sabia do disfarce de Rodolfo. Somente no capítulo 66 ele revelou seu segredo para ela.

  A mãe de Sinhá Moça reconhecia e aceitava as idéias abolicionistas da filha e seu amor por Rodolfo. Fina e recatada, Cândida (Elaine Cristina) era submissa ao marido, mas enfrentava as decisões do autoritário Barão. Ela atuava como intermediadora entre a filha e o marido. Outra personagem importante na vida de Sinhá Moça é Bá (Chica Xavier), por quem Cândida também tinha respeito e carinho.

  Bá tivera uma criança que lhe fora tirada dos braços pelo patrão, o coronel Ferreira, para ser vendida num lote de escravos. Levada para trabalhar na Casa Grande, amamentou Sinhá Moça e apegou-se à menina como se fosse sua filha. Em nome desse amor, resolveu esquecer a crueldade cometida pelo patrão. Bá tinha a esperança de reencontrar o menino, fruto de seu único e verdadeiro amor, o Pai José (Milton Gonçalves), um homem que lutava pela libertação dos escravos, mas acabou morrendo no tronco depois de muito apanhar.
  A família de Rodolfo era formada pelo pai, Fontes (Mauro Mendonça), que era advogado, a mãe, Inez (Neuza Amaral), e o irmão, Ricardo (Daniel Dantas).

  Mudou-se para Araruna após terminar a faculdade, para crescer na profissão e enriquecer. Inteligente e sensível era abolicionista, mas preferia não enfrentar o Barão. Inês, por sua vez, era uma típica dona-de-casa da época, dedicada ao marido e ao filho. O irmão de Rodolfo, Ricardo, era um jovem tímido e generoso, que nunca teve interesse em estudar, preferindo ficar na fazenda do pai. Sua paixão era a natureza. No decorrer da história, Ricardo se envolveu com Ana do Véu (Patrícia Pillar), moça prometida a seu irmão.
  Uma das tramas paralelas que chamou atenção foi a de Ana do Véu (Patrícia Pillar), que mantinha seu rosto coberto por um véu por causa de uma promessa feita por Nina (Norma Blum), sua mãe, á Santa Rita. A promessa consistia em que a jovem só poderia revelar seu rosto a seu futuro marido, mas por pressão de Manoel (José Augusto Branco), o pai da moça, isso aconteceu antes do previsto em um baile de gala organizado pela família dela para toda a cidade de Araruna.

  Outra trama importante na novela era o de Rafael (Raymundo de Souza), escravo alforriado que lutava para destruir o barão de Araruna. Rafael era filho do barão com a escrava Maria das Dores (Dhu Moraes).
  Antes de ser vendido pelo barão, conviveu com Sinhá Moça na infância, se tornou seu amigo. Depois de alforriado, Rafael adotou o nome de Dimas e voltou à Araruna disposto a se vingar. Ele se tornou o braço direito do jornalista Augusto (Luiz Carlos Arutin), um abolicionista convicto.
  Augusto se dividia entre seus ideais e sua neta Juliana (Luciana Braga), de quem cuidava desde menina. Bonita, inteligente e cheia de vida, Juliana era uma moça recatada que acabou se apaixonando por Dimas. Juntos, lutavam pelos ideais abolicionistas.
  No final da novela, depois da alegria pela promulgação da lei Áurea, a felicidade de Juliana e Dimas ficou ainda maior com a notícia da gravidez dela.
  A veterana atriz Ruth de Souza, que já havia trabalhado na versão cinematográfica de Sinhá Moça – produção da Vera Cruz, dirigida por Tom Payne, lançada em 1953 –, conta que estava ansiosa para ser escalada para a novela. Até que Benedito Ruy Barbosa a convidou para viver a velhinha Nhá Balbina, que contracenava com o personagem de Grande Otelo (Justo), ambos gagás.
  O amor de José Coutinho (Tato Gabus) e Adelaide (Solange Couto) foi outro romance da história que também conquistou o público. Ele era filho do ambicioso fazendeiro Coutinho (Ivan Mesquita). Ela, escrava, era levada por Sinhá Moça para viver na casa grande, transformada em sua dama de companhia.
  Amigo de Rodolfo, José Coutinho estudou na capital e voltou a Araruna com idéias abolicionistas. Junto com Mário (Tarcísio Filho), Nino (Nizo Netto), Renato Prieto (Vila) e Renato (Denis Derkian), integravam uma associação clandestina que comprava escravos para alforriá-los, além de ajudar nas fugas das senzalas. Seu pai queria que ele se casa se com Sinhá Moça, interessado na fortuna do barão de Araruna. Ele, no entanto, se apaixonou perdidamente pela bela Adelaide, quando a conhece na casa de Sinhá Moça, e passou a se encontrar às escondidas com ela. Ao saber do romance entre os dois, Coutinho, enfurecido, expulsou o filho de casa.
  José Coutinho, no entanto, não desistiu de seu grande amor e conseguiu que Frei José (Sérgio Viotti) realiza-se seu casamento com Adelaide. Ela ainda era assediada pelo escravo Justino (Antônio Pompeu), que, em determinado momento da trama, chegou a atrapalhar seu casamento. Mas, no final da novela, José Coutinho e Adelaide se entendem e terminam juntos e felizes.

Algumas curiosidades deste grande sucesso:
•·         A novela obteve picos de 72 pontos de audiência em sua exibição original.
•·         Lucélia Santos e Rubens de Falco voltavam a se encontrar, desta vez como pai e filha, 10 anos depois do mega sucesso “Escrava Isaura”.
•·         Fábio Júnior era a primeira opção para o papel de Rodolfo, ele não pode aceitar por compromissos musicais.
•·         O hoje ator Pedro Neschling, filho de Lucélia Santos, fez figuração nas cenas do baile de Ana do Véu.
•·         A atriz Jacyra Sampaio, a eterna Tia Nastácia do “Sitio do Pica-pau Amarelo”, chegou a ser escalada para viver a Virgínia, a ama de leite de Sinhá Moça, que acabou ficando com Chica Xavier e ela ficou sendo Ruth, a Bá de Rodolfo.
•·         Foi exibida no “Vale a Pena Ver de Novo” em 1993 e voltou a alcançar altos níveis de audiência.
•·         Primeira novela da atriz Luciana Braga.
•·         Recebeu vários nomes em alguns países onde foi exibida, entre eles: ”Little Missy” (EUA), “Mademoiselle” (França), “El Camino De La Libertad” (Espanha) e “La Padroncina” (Itália).
•·         Em 1988, na Alemanha o romance ganhou o subtítulo “Die Tochter des Sklavenhalters” – “A Filha dos Escravos”.
•·         Durante a exibição da novela o programa “Fantástico” promoveu o encontro entre a atriz Lucélia Santos e a saudosa escritora Maria Dezonne.
•·         Em sua trilha sonora nomes do primeiro time da MPB como: Fafá de Belém, Gilberto Gil, Clara Nunes, Claudio Nucci, Dori Caymmi, Roberto Ribeiro e Ronnie Von em canções feitas especialmente para a novela.
•·         A cantora Denise Emmer, filha de Janete Clair e Dias Gomes, marcou presença na trilha sonora da novela com a canção “Companheiros”.
•·         As externas das Fazendas foram feitas em Conservatória (RJ), Itatiaia (RJ) e São João Del Rei (MG).
•·         A moça que estampava a capa da trilha sonora original da novela, muito parecida com Lucélia Santos, era na verdade a modelo Juana Garibaldi Carvalho.



segunda-feira, 23 de julho de 2012

O Diabo em figura de gente

  Relembrar as tramas de Gilberto Braga é um deleite para os apaixonados por novelas. Mas como meu ofício é escrever – primeiro como estudante de comunicação social, depois como aspirante a roteirista de TV -, é através do teclado do not-book que consigo expandir, soltar as ideias, não me furtando a escrever o quê mais gosto, que são as telenovelas. E, hoje, abordarei a polêmica e ousada “Corpo a Corpo” (1984), uma das poucas novelas lembradas da teledramaturgia brasileira.
  No início da história, Teresa (Glória Menezes) foi-nos apresentada como uma mulher dotada de um excelente caráter. Uma enfermeira bonita e que evidenciava uma notável inteligência. Viúva, vivia com a filha, Heloísa (Isabela Garcia), uma jovem de 16 anos, com quem tem uma relação de grande afeto que não a leva a preocupar-se com um segundo casamento.




  Acaba, contudo, por ir trabalhar para a mansão de Alfredo Fraga Dantas (Hugo Carvana), como enfermeira, quando o filho do magnata, Cláudio (Marcos Paulo) se debate com um problema de saúde. Com o empresário carioca, cria, também, uma relação que ultrapassa as barreiras do profissionalismo.
  Apenas a jovem estudante de jornalismo Bia (Malu Mader), a filha caçula de Alfredo, percebe que a enfermeira não é tão doce quanto aparenta.
  Na verdade, Teresa esconde um segredo do passado. Não foi em vão que ela aceitou a trabalhar para a família Fraga Dantas. Afinal, essa poderosa família possui um grande império no ramo de construção civil, no qual trabalha o simpático Omar Pelegrini (Antônio Fagundes), o homem que Teresa amou e não foi correspondida com o mesmo sentimento. Por não se conformar por ter sido rejeitada e preterida por uma mulher mais nova, Teresa desenvolve um ódio intenso pelo engenheiro da Fraga Dantas S.A. É ela quem cria o Diabo (Flávio Galvão em uma atuação magistral), para agir contra o casal Osmar e Eloá (Débora Duarte). Porém, acaba por perceber-se que não pode mandar no coração. Na verdade, o amor que viveu com Osmar pertence a um passado. Agora, a enfermeira tem de investir na relação que ainda pode viver com o velho Alfredo.


  Desde o começo da novela, o Diabo foi uma figura central da história que ao longo da trama, aparentava ser um homem normal, sem exibir qualquer tipo de misticismo.
  Flávio Galvão, o ator que deu vida ao misterioso personagem, defendeu o seu “Diabo” com “unhas e dentes”: “Ele nunca disse que era o Diabo, são os outros que o afirmam. A única coisa que ele faz é propor pactos.”
  Mas afinal quem era Raul? Um homem maléfico criado por Teresa para infernizar a vida de Eloá ou um homem que aprendeu bem a lição e a usar a maldade em proveito próprio? Essa foi a pergunta que ficou sem resposta, pois, mesmo após a morte, a figura do Diabo surge para as personagens com quem mais privou na história.

  Acredito que o autor foi muito feliz na escolha do título da novela. Passa-me a impressão de luta e dá uma ideia geral da trama. Luta entre pessoas que se amam, numa tentativa de permanecerem juntas. Luta entre líderes e liderados, num momento tão conturbado como o que estamos vivendo. Luta entre gerações novas, mais abertas, contra gerações mais conservadoras. Em destaque, está a história de Eloá Pelegrini, uma mulher envolvente e ambiciosa, sempre em busca de projeção social e profissional. Para tal, ela se empenha para se destacar na empresa de engenharia onde ela e o marido, Osmar, trabalham. Osmar é um homem sem grandes ambições, casado com Eloá há 16 anos, com quem teve Ronaldo (Selton Mello). O casal protagonista passam por situações devastadoras, chegando até ao divórcio. No final, vence o amor, quando o casal se reconciliam e vivem felizes para sempre.

  Quem brilhou de verdade em “Corpo a Corpo” foi a atriz Joana Fomm na pele da pérfida e preconceituosa Lúcia Gouveia.  Nas ruas, a atriz chegou a ser insultada em público: “Lúcia, mulher falsa, adúltera, manipuladora, tirânica e vingativa...” é daquelas personagens que, na vida real, ninguém quer ter por perto.

  Além de Eloá e Osmar, outras casais merecem destaque. Por exemplo, Bia e Rafael (o saudoso Lauro Corona). No início da história, ela namora Zeca (Caíque Ferreira), e ele é noivo de Ângela (Andréa Beltrão). Ao se conhecerem no curso de Datilografia, os dois se apaixonam, mas, por serem comprometidos, não se declaram. Rafael nasceu no Sul e veio para o Rio de Janeiro com a mãe, Guiomar (Eloísa Mafalda), e a noiva, depois que ela perdeu o pai em uma trágica enchente. Bia chega a marcar o casamento com Zeca, mas desiste da união quando Rafael declara que é apaixonado por ela e não aguentaria vê-la com outro homem.

  O romance inter-racial entre Cláudio e a arquiteta Sônia Rangel (Zezé Mota) merece destaque. Apaixonados tremendamente um pelo outro, o casal vive um romance conturbado pelo preconceito racial: ele é branco e de família tradicional, e ela, negra e de família simplória. A relação dos dois não é aceita por Alfredo, pai de Cláudio. Em depoimento ao documentário “A negação no Brasil” a atriz Zezé Mota, disse ter sido hostilizada e agredida verbalmente nas ruas por inúmeras mulheres que não aceitavam o relacionamento de sua personagem com um homem branco, jovem e rico.


  “Corpo a Corpo” marcou a estreia de três futuras grandes atrizes na TV Globo: Lilia Cabral (Margarida), Luiza Tomé (Alice) e Andréa Beltrão (Ângela). Na vinheta de abertura, elas eram creditadas, nessa mesma ordem, na seção “apresentando”.

  Mas, ao final da trama, Cláudio e Sônia se casam numa linda cerimônia na mansão da família Fraga Dantas. Brancos, negros, ricos e pobres, se encontraram para o desfecho da novela, começando assim, uma nova era em clima de harmonia e solidariedade.
  Os últimos capítulos foram emocionantes. Depois de terem cumprido pena por crimes que nunca chegaram a ser comprovados, Raul e Teresa voltam a se encontrar para um acerto de contas final. Porem, Teresa mostra-se arrependida e disposta a mudar deixando de lado todo o ódio e ressentimentos do passado. Raul acaba por morrer, quando deflagra um inexplicável incêndio em sua casa que sucumbe, também, Lúcia e o seu amante Amauri (Stênio Garcia), que era o verdadeiro pai de Alice (Luiza Tomé), mas não tinha contato com ela porque a menina ficou com Lúcia.
  Ultrapassada todas as crises e tormentos, Teresa, Eloá, Bia e Sônia, permanecem felizes e de bem com a vida ao lado dos seus respectivos amores: Alfredo, Osmar, Rafael e Cláudio.

Sempre sincero em suas entrevistas, Gilberto Braga relembrou como gostou de escrever “Corpo a Corpo”. “- A novela foi bem, e eu sempre pensei: ‘Por que falam de ‘Dancin’ Days’ e ‘Água Viva’ quando citam os meus sucessos e não falam de ‘Corpo a Corpo’?’. Era uma novela extremamente bem feita, com uma trama bem armada... Até hoje, é muito elogiada por escritores. Sempre encontro algum escritor de novela que elogia ‘Corpo a Corpo’. Talvez o público não se lembre tanto da novela porque não tinha como protagonista uma estrela tradicional, como Sônia Braga em ‘Dancin’ Days’.”, declarou o novelista.

Por Vinícius Sylvestre

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Conflitos de 7 amigas

  Uma trama complicada e com muitos personagens pode dar certo no horário das 19h – tradicional celeiro de histórias bem-humoradas? Pode, desde que bem escrita, dirigida e representada. Um bom exemplo é a novela “Elas por Elas”, um clássico da teledramaturgia assinado pelo saudoso mestre Cassiano Gabus Mendes e, que se transformou numa das maiores audiências da TV Globo no início dos anos 80.
  A novela contava a história de sete amigas de colégio cujas as histórias no passado faziam com que se reencontrassem no presente. Duas delas, a rica e mimada Helena (Aracy Balabanian) e a dócil Adriana (Esther Góes) tiveram seus filhos trocados na maternidade pelo pai de Helena, o inescrupuloso Miguel (Mário Lago), que queria um neto homem para herdar os seus negócios. A situação do empresário se complica quando a enfermeira que o ajudou na troca passa a chantageá-lo e o falso neto se apaixona pela garota que é a neta verdadeira. Helena não aceitara o relacionamento e sua oposição acabara aproximando o marido Jayme (Carlos Zara) de Adriana sua verdadeira paixão na adolescência.
  Wanda (Sandra Bréa), a mais pobre, porém mais bonita das moças, vive um caso de amor com Átila (Mauro Mendonça), sem saber que o rico empresário é marido de uma das suas amigas dos tempos de escola, a dondoca e elegante Márcia. Aos poucos, os caminhos as reaproximam das outras amigas – a neurótica Natália (Joana Fomm), obcecada com a morte do irmão; a namoradeira Marlene (Mila Moreira), é a mais jovem do grupo das amigas; e a batalhadora Carmem (Maria Helena Dias), a mais animada com o reencontro das amigas do colégio.
  Extremamente bem elaborada a trama de “Elas por Elas” seduziu o grande público desde o seu início, intercalando humor com ingredientes comuns ao gênero folhetinesco como ciúmes, desavenças entre milionários e pobretões, romances arrebatadores e personagens solitários. O elenco estelar foi outro dos pontos altos e respondeu à altura aos anseios do público. O sucesso da novela fez com que ela fosse reprisada no vale a pena ver de novo três anos após sua primeira exibição.


  A eterna Sandra Bréa teve um grande momento e terminou consagrada pelo seu fiel público, bem como as atrizes Aracy Balabanian e Esther Góes. Outro destaque que merece ser lembrado foi a personagem Yeda vivida por Cristina Pereira, era uma mulher feia e mal-amada que se imaginava sedutora e lindíssima. Para dar vida aos seus sonhos, a direção e produção da novela utilizou-se da bela atriz Maitê Proença e das modelos Xuxa Meneghel e Luiza Brunet então no auge da fama, consagradas como as maiores manequins do Brasil. Mas quem roubou a cena e os aplausos dos críticos foi o veterano Luis Gustavo, com o seu personagem Mário Fofoca, um detetive particular, que não consegue resolver os casos que aparecem. Atrapalhado, desastrado e esquecido, está sempre perseguido pela má sorte. Seu sucesso foi tanto que se transformou em filme e depois em seriado de TV, ambas no entanto experiências fracassadas. Em 2010, o ator Luis Gustavo retorna as telinhas encarnando o mesmo Mário Fofoca, mas dessa vez a novela era o remake Ti Ti Ti.

  Wolf Maya, diretor da novela, conta que preparava uma surpresa para os atores durante as gravações. Certa vez, deixou, propositalmente, uma cadeira bamba no cenário, para que Luis Gustavo levasse um susto quando se sentasse e sentisse que poderia cair. O diretor aproveitava o susto do ator e a solução que ele encontrava para seguir a cena sem interrompê-la. Isso, somado ao talento do elenco, segundo Wolf, dava maior espontaneidade às cenas. O diretor diz que, em “Elas por Elas”, explorou ao máximo as possibilidades que um texto de comédia pode alcançar.
- Eva Wilma conta que muitas cenas entre sua personagem e Mário Fofoca foram improvisadas. Segundo ela, a fogosa Márcia tentava agarrar o detetive a todo custo. A atriz se lembra de uma cena em que ela finalmente conseguia o que queria, apanhando Luis Gustavo pela gravata, quase o enforcando. Os dois terminaram a cena caídos atrás do sofá.
  A abertura de Elas por Elas – produzida pelo designer Hans Donner e sua equipe – foi uma das mais criativas já feita. Ao som do grupo The Fevers, exibia uma festa dos anos 60, em preto e branco. A imagem de uma jovem da festa era congelada após um efeito de flash de máquina fotográfica. A cena se transformava numa foto, e a moça fotografada saía desta foto, fundindo-se com a imagem de uma atriz do elenco, na atualidade, já colorida. http://www.youtube.com/watch?v=OI8J-Gu82hg

 Primeira novela na Globo dos atores Cássio Gabus Mendes (filho de Cassiano), André de Biasi, Tássia Camargo e Cristina Pereira.

  As novelas de Cassiano eram vistas como exibições fúteis do conflito entre ricos e pobres, até se começar a notar que o autor, na verdade, era um amargo observador da mesquinharia humana, e que a futilidade dos personagens era vista com um olhar impiedoso e cruel. Cassiano não admirava nem um pouco seus personagens, eles eram um retrato amargo de uma sociedade vazia e superficial.
  Elas por Elas estreou em 10 de maio de 1982 e ficou no ar até 27 de novembro daquele ano, totalizando 173 capítulos. Merece  uma reprise no Canal Viva!
                                                                                                                                Por Vinícius Sylvestre