domingo, 5 de agosto de 2012

O Novelista Serial Killer e Seus Mistérios


  Novela de Silvio de Abreu, escrita por ele, Alcides Nogueira e Maria Adelaide Amaral, com direção geral de Jorge Fernando – foi ao ar entre março e novembro de 1995 (com reprise no Vale a Pena Ver de Novo em 2000). O grande sucesso daquele ano, a novela – essencialmente policial – inovou ao despertar a atenção do telespectador não somente pelo mistério da identidade do serial killer da história, mas também pela expectativa sobre qual personagem seria a próxima vítima do assassino.
  "Já havia namorado o policial na minissérie Boca do Lixo e acho que me saí bem", conta Sílvio de Abreu, autor de 13 novelas, entre elas a hilária Guerra dos Sexo. Um clima de mistério, ao melhor estilo de Alfred Hitchcock e Agatha Christie, vai pairar sobre A Próxima Vítima desde a primeira cena, quando Paulo Soares (Reginaldo Faria, em participação especial) morre atropelado por um carro preto.


  A trama policial tem como principais cenários a Mooca e o Bixiga, em São Paulo – universos recorrentes nos trabalhos de Silvio de Abreu –, e também apresenta a história da batalhadora Ana (Susana Vieira), dona de uma cantina italiana, amante há 20 anos do mau-caráter Marcelo Rossi (José Wilker), com quem tem três filhos: Carina (Deborah Secco), Sandrinho (André Gonçalves) e Giulio (Eduardo Felipe). Marcelo é casado, por interesse, com a rica Francesca Ferreto (Tereza Rachel), mas vive um tórrido romance com a maléfica sedutora Isabela (Claudia Ohana), sobrinha de sua esposa e noiva de Diego (Marcos Frota), que desconhece seu verdadeiro caráter. O simpático Juca (Tony Ramos), meio-irmão de Marcelo e dono de uma barraca de frutas no Mercado Municipal de São Paulo, é apaixonado por Ana, mas ela só tem olhos para o pai de seus filhos. Juca, por sua vez, é pai de Tonico (Selton Mello) e Iara (Georgiana Góes).


  OS PRIMEIROS ASSASSINATOS - Depois de descobrir que estava sendo traída há 20 anos Francesca dá um tiro no marido. Quando Marcelo viaja para a Itália com a amante Ana, a ricaça morre envenenada  no aeroporto após receber uma ligação anônima. Como a história vazou na imprensa, Sílvio de Abreu fez mudanças nos 12 capítulos iniciais de A Próxima Vítima "A história será modificada a torto e a direito, mesmo que isso acarrete prejuízo aos personagens e conseqüentemente aos atores, para que se mantenha o suspense", avisa o autor.
  Quem também vai abotoar o paletó de madeira nos primeiros capítulos, em circunstâncias estranhas, é o renomado advogado Hélio Ribeiro (Francisco Cuoco), casado com Helena (Natália do Valle) e pai de Irene (Viviane Pasmanter). O certo é que os dois assassinatos - o de Francesca e o do advogado do Hélio - estão ligados de alguma forma ao homem atropelado no primeiro capítulo, pois ele os havia procurado antes de morrer.


  "Sempre achei que uma história policial poderia ser uni bom entretenimento para o público e acho que novela é isso mesmo: diversão e entretenimento", diz o autor Sílvio de Abreu. O mistério é tanto que ele diz que nem o diretor geral Jorge Fernando saberá quem matou e quem vai morrer.
NOVA TRAIÇÃO DEPOIS DE 20 ANOS
  Mal enterra a mulher, Marcelo rompe uma relação de 20 anos com Ana depois de confessar que tem outra amante - a sobrinha Isabela, filha de Carmela (Yoná Magalhães), a irmã caçula de Filomena e Francesca, que são donas de um frigorífico em São Paulo. A revelação do romance cai como uma bomba na mansão da família Ferreto.

  Antes de serem descobertos, Marcelo e Isabela se encontram às escondidas protagonizando tórridas cenas de paixão, na mesa da cozinha das Ferreto ou num celeiro. O casal é surpreendido pelo menos duas vezes, uma por Diego (Marcos Frota), o namorado de fachada de Isabel, e outra pelo mordomo Alfredo (Vitor Branco), quase chegando às vias de fato. "Pode vir que eu já estou pronta para servir", disse Cláudia Ohana, fora do texto, esparramada na mesa entre panelas e talheres, durante um ensaio no estúdio.

  Humilhada, Ana vai tentar de todas as formas se vingar do 'ex'. Ela vai até mesmo se unir à autoritária Filomena, chefe da clã das Ferreto e sócia de Ana em três restaurantes. Fragilizada, Ana acaba se afeiçoando ao sempre amigo e apaixonado Juca, distribuidor de frutas no Mercado da Cantareira e irmão de criação de Marcelo, que a ama desde jovem.

 Só que Ana não tem sorte mesmo no amor. Quando Helena fica viúva de Hélio, com quem mantinha um casamento aberto, ela conhece Juca, por quem se apaixona intensamente, formando assim um triângulo amoroso.


  Numa das cenas mais fortes da trama, Diego (Marcos Frota) espanca Isabela (Claudia Ohana) e a empurra do alto da escada da mansão dos Ferreto, no dia de seu casamento, quando descobre que ela o trai com Marcelo (José Wilker). Tempos depois, é a vez de Marcelo esfaquear a jovem, ao ser traído por ela com Bruno (Alexandre Borges), o amante de Romana Ferreto (Rosamaria Murtinho), tia da moça. Isabela ganha uma cicatriz no rosto.



  Destaque para o núcleo dos Ferreto, uma poderosa  família de tradições antigas, muitas posses, que se mantém unida, com as três irmãs. Filomena, Carmela e Francesca morando juntas na grande numa mansão no bairro dos Jardins. Filomena, é dentre os membros do clã, aquela que tem mais força e vontade de lutar, sempre defendendo os interesses e negócios da família, de suas irmãs e de sua adorada sobrinha Isabela. É casada com o submisso Eliseo (Gianfrancesco Guarnieri), mas se recusa a usar o sobrenome do marido. Com o seu poder, maneja a vida e a morte de muitos personagens da trama.


  Yoná Magalhães interpretou brilhantemente Carmela Ferreto de Vasconcelos,  a Cacá, uma grã-fina italiana, que saiu falida de um casamento e se envolve com um rapaz muito jovem e lutava para viver esse grande amor, diante do preconceito da sua família, sobretudo de sua irmã mais velha Filomena.
  Curiosamente, uma das poucas novelas em que Yoná apareceu de visual diferente, com um corte chanel clássico, a atriz já declarou que gosta de seu cabelo bem comprido, feito permanente, sua marca registrada.

Preconceito
  Em uma de suas principais tramas paralelas, Silvio de Abreu abordou a questão do preconceito de brancos contra negros e vice-versa, levantando a discussão sobre se o preconceito no Brasil é social ou racial. Para tanto, o autor criou como um dos núcleos dramáticos da novela uma família negra de classe média. O pai, Cleber Noronha (Antônio Pitanga), é um íntegro contador, que trabalha para várias empresas. Casado com a secretária-executiva Fátima (Zezé Motta), construiu uma família bem-sucedida, formada pelos filhos Sidney (Norton Nascimento), um gerente de banco, Jefferson (Lui Mendes), estudante de Direito, e Patrícia (Camila Pitanga), que sonha ser modelo.


Homossexualismo
  O tema da homossexualidade foi apresentado na novela através da relação de Jefferson e Sandro, filho de Ana e Marcelo, e se transformou em um dos pontos altos de A Próxima Vítima. O envolvimento dos dois rapazes causou grande impacto sobre o público, com o “agravante” de ser um negro, e o outro, branco. 


  A história fica ainda mais movimentada com a chegada ao Brasil de Romana (Rosamaria Murtinho), outra irmã das Ferreto. Ela chega acompanhada do suposto filho adotivo Bruno (Alexandre Borges), que é, na verdade, seu amante. Irmã mais velha de Filomena, Francesca e Carmela. Romana chega de Florença, na Itália. É finíssima, elegante e rica. Adora dinheiro e sabe desfrutar muito bem dos prazeres que ele proporciona, mas não consegue viver com pouco e, às vezes, é obrigada a golpes bem baixos para manter seu padrão de vida. Tem um temperamento forte como o de Filomena, a quem não suporta, sendo a única mulher da trama com personalidade e força para enfrentá-la.

  Entre os que morrem na trama estão, ainda, Leontina (Maria Helena Dias), cuja sela foi afrouxada de propósito, fazendo com que ela caísse do cavalo e batesse com a cabeça em uma pedra; Paulo Soares/Arnaldo Roncalho (Reginaldo Faria) foi atropelado pelo Opala preto no começo da novela; Josias (José Augusto Branco) foi empurrado na linha do trem; Yvete (Liana Duval) foi morta a pauladas em casa; o contador Cléber Noronha (Antônio Pitanga) foi empurrado no poço do elevador do prédio onde morava; Ulisses Carvalho (Otávio Augusto), irmão de Ana, morreu na explosão de uma pizzaria; e Eliseo morreu asfixiado por monóxido de carbono, após levar uma coronhada na garagem da mansão dos Ferreto.

  Paralelo aos assassinatos em série, outros dois crimes ocorrem na trama, planejados ou executados por Isabela. O primeiro foi o de Andréia Barcelos (Vera Gimenez), secretária do Frigorífico Ferreto, assassinada com um tiro pela vilã. Depois, foi a vez de Romana Ferreto, afogada por Bruno na piscina da mansão dos Ferreto, enquanto estava dopada. Bruno estava executando um plano de Isabela.


  Ao fim da trama, descobre-se que todas as vítimas do assassino em série tinham ligação entre si. As mortes foram queimas de arquivo, em decorrência do assassinato de Gigio di Angelis (Carlos Eduardo Dolabella), morto a tiros em 1968. O criminoso é desmascarado no último capítulo: Adalberto (Cecil Thiré), marido de Carmela Ferreto e pai de Isabela, que havia sumido depois de ter gasto todo o dinheiro da esposa.
  A cena que revelava o assassino da novela A Próxima Vítima foi gravada uma hora e meia antes da exibição do capítulo final? O objetivo era manter o suspense até o último minuto. O serial killer Adalberto (Cecil Thiré) foi descoberto pelo detevive Olavo (Paulo Betti) e acabou morto pela polícia ao tentar fugir.
  Três meses depois de encerradas as gravações, parte do elenco foi reunido novamente para gravar um final alternativo. Como A Próxima Vítima seria exibida em outros países, foi preciso escolher outro assassino, para a história não perder a graça. Na versão internacional, Ulysses (Otávio Augusto) se tornou o serial killer. Para dar coerência a história, Silvio de Abreu teve que cortar algumas cenas da novela original. O novo final foi exibido no Brasil em 2000, no Vale a pena ver de novo.

  Em evento realizado na manhã desta terça-feira (15/05) em São Paulo – em comemoração aos seus dois anos de existência – o Canal Viva divulgou as suas próximas estreias de novelas e, “A Próxima Vítima”, está entre elas.  Agora resta saber qual dos finais gravados será o apresentado no Canal Viva.
                                                                                                                    Por Vinícius Sylvestre