sexta-feira, 20 de julho de 2012

Conflitos de 7 amigas

  Uma trama complicada e com muitos personagens pode dar certo no horário das 19h – tradicional celeiro de histórias bem-humoradas? Pode, desde que bem escrita, dirigida e representada. Um bom exemplo é a novela “Elas por Elas”, um clássico da teledramaturgia assinado pelo saudoso mestre Cassiano Gabus Mendes e, que se transformou numa das maiores audiências da TV Globo no início dos anos 80.
  A novela contava a história de sete amigas de colégio cujas as histórias no passado faziam com que se reencontrassem no presente. Duas delas, a rica e mimada Helena (Aracy Balabanian) e a dócil Adriana (Esther Góes) tiveram seus filhos trocados na maternidade pelo pai de Helena, o inescrupuloso Miguel (Mário Lago), que queria um neto homem para herdar os seus negócios. A situação do empresário se complica quando a enfermeira que o ajudou na troca passa a chantageá-lo e o falso neto se apaixona pela garota que é a neta verdadeira. Helena não aceitara o relacionamento e sua oposição acabara aproximando o marido Jayme (Carlos Zara) de Adriana sua verdadeira paixão na adolescência.
  Wanda (Sandra Bréa), a mais pobre, porém mais bonita das moças, vive um caso de amor com Átila (Mauro Mendonça), sem saber que o rico empresário é marido de uma das suas amigas dos tempos de escola, a dondoca e elegante Márcia. Aos poucos, os caminhos as reaproximam das outras amigas – a neurótica Natália (Joana Fomm), obcecada com a morte do irmão; a namoradeira Marlene (Mila Moreira), é a mais jovem do grupo das amigas; e a batalhadora Carmem (Maria Helena Dias), a mais animada com o reencontro das amigas do colégio.
  Extremamente bem elaborada a trama de “Elas por Elas” seduziu o grande público desde o seu início, intercalando humor com ingredientes comuns ao gênero folhetinesco como ciúmes, desavenças entre milionários e pobretões, romances arrebatadores e personagens solitários. O elenco estelar foi outro dos pontos altos e respondeu à altura aos anseios do público. O sucesso da novela fez com que ela fosse reprisada no vale a pena ver de novo três anos após sua primeira exibição.


  A eterna Sandra Bréa teve um grande momento e terminou consagrada pelo seu fiel público, bem como as atrizes Aracy Balabanian e Esther Góes. Outro destaque que merece ser lembrado foi a personagem Yeda vivida por Cristina Pereira, era uma mulher feia e mal-amada que se imaginava sedutora e lindíssima. Para dar vida aos seus sonhos, a direção e produção da novela utilizou-se da bela atriz Maitê Proença e das modelos Xuxa Meneghel e Luiza Brunet então no auge da fama, consagradas como as maiores manequins do Brasil. Mas quem roubou a cena e os aplausos dos críticos foi o veterano Luis Gustavo, com o seu personagem Mário Fofoca, um detetive particular, que não consegue resolver os casos que aparecem. Atrapalhado, desastrado e esquecido, está sempre perseguido pela má sorte. Seu sucesso foi tanto que se transformou em filme e depois em seriado de TV, ambas no entanto experiências fracassadas. Em 2010, o ator Luis Gustavo retorna as telinhas encarnando o mesmo Mário Fofoca, mas dessa vez a novela era o remake Ti Ti Ti.

  Wolf Maya, diretor da novela, conta que preparava uma surpresa para os atores durante as gravações. Certa vez, deixou, propositalmente, uma cadeira bamba no cenário, para que Luis Gustavo levasse um susto quando se sentasse e sentisse que poderia cair. O diretor aproveitava o susto do ator e a solução que ele encontrava para seguir a cena sem interrompê-la. Isso, somado ao talento do elenco, segundo Wolf, dava maior espontaneidade às cenas. O diretor diz que, em “Elas por Elas”, explorou ao máximo as possibilidades que um texto de comédia pode alcançar.
- Eva Wilma conta que muitas cenas entre sua personagem e Mário Fofoca foram improvisadas. Segundo ela, a fogosa Márcia tentava agarrar o detetive a todo custo. A atriz se lembra de uma cena em que ela finalmente conseguia o que queria, apanhando Luis Gustavo pela gravata, quase o enforcando. Os dois terminaram a cena caídos atrás do sofá.
  A abertura de Elas por Elas – produzida pelo designer Hans Donner e sua equipe – foi uma das mais criativas já feita. Ao som do grupo The Fevers, exibia uma festa dos anos 60, em preto e branco. A imagem de uma jovem da festa era congelada após um efeito de flash de máquina fotográfica. A cena se transformava numa foto, e a moça fotografada saía desta foto, fundindo-se com a imagem de uma atriz do elenco, na atualidade, já colorida. http://www.youtube.com/watch?v=OI8J-Gu82hg

 Primeira novela na Globo dos atores Cássio Gabus Mendes (filho de Cassiano), André de Biasi, Tássia Camargo e Cristina Pereira.

  As novelas de Cassiano eram vistas como exibições fúteis do conflito entre ricos e pobres, até se começar a notar que o autor, na verdade, era um amargo observador da mesquinharia humana, e que a futilidade dos personagens era vista com um olhar impiedoso e cruel. Cassiano não admirava nem um pouco seus personagens, eles eram um retrato amargo de uma sociedade vazia e superficial.
  Elas por Elas estreou em 10 de maio de 1982 e ficou no ar até 27 de novembro daquele ano, totalizando 173 capítulos. Merece  uma reprise no Canal Viva!
                                                                                                                                Por Vinícius Sylvestre


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