quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Mãos e coração na arte
Ela é uma das atrizes mais simpáticas que eu já conheci. Dona de um imensurável talento, ela é muito mais que uma atriz, é também dubladora, locutora e ainda uma artista plástica de ‘mão cheia’. Ela encanta os fãs sem se conformar jamais com os limites da arte de representar. Mesmo em seus momentos menos inspirados Nica Bomfim  nunca deixou de ser profundamente humana e ter seu jeitinho carinhoso e sua alma universal.
Texto: Vinícius Sylvestre
Fotos: Luciene Silva

Ela vem caminhando sorridente, mais o porte não esconde: é Nica Bomfim minha “Entrevistada Especial”, com nuances de seu tipo alto-astral, mas que a estigmatiza como atriz de várias facetas. Aos 56 anos, Nica está feliz e aguardando novos desafios profissionais. Mais do que isso: ela já está envolvida em novos projetos como teatro, e futuramente, cinema. É uma mulher humilde, tranquila, rica de histórias, com quem se conversa em uma livraria por mais de uma hora, sem ter vontade de ir embora, sempre querendo ouvir mais. Só que a noite se vai, e vento e chuva se aproximam. O que eu posso fazer? Internautas e simpatizantes do “Só Quero Novelas”, tenho o prazer que vocês confiram essa maravilhosa entrevista de Nica Bomfim.
Você é atriz e artesã. O que surgiu primeiro na sua vida: o artesanato ou a arte de atuar?
Olha, eu acho que o artesanato surgiu junto comigo desde pequenininha eu gostava muito de mexer com as mãos de fazer coisinhas, trabalhinhos, bonequinhos, pequenas coisas... E no bandeirantismo, que hoje em dia o movimento já deve está acabado, na época era dividido (as meninas eram bandeirantes, e os meninos eram escoteiros). Eu comecei a participar ainda menina, e lá os lideres estimulavam muito o trabalho manual, eu aprendi a fazer esse tipo de arte, e levei isso pra vida, sabe! Sempre gostei de fazer bonequinhos para presentear os amigos. Daí comecei a trabalhar com papeis e outros materiais, eu mesma fui desenvolvendo a técnica de papel que utilizo. Quando faço novela eu faço bonecos dos personagens pra presentear os colegas de elenco.
O que você destacaria do seu trabalho na novela “Amor Eterno Amor” (Rede Globo/2012)?
Olha, a novela em si, foi muito gostosa de fazer. O ambiente de gravação era maravilhoso. Foi a segunda vez que trabalhei com a dupla Beth Jhin e Papinha (Rogério Gomes, diretor), que são duas pessoas especiais e com um astral maravilhoso, que atraem pessoas legais em torno da equipe.  Foi uma novela que não teve problemas, estrelismo, frescura, a gente se divertia muito durante as gravações, a gente gostava muito de estar juntos, sabe! Nossa foi muito bom! E a minha personagem a Deolinda era muito agradável, com um grande extinto maternal, eu acho que a Beth, autora da novela, tem essa impressão ao meu respeito, pois foi a terceira vez que fiz uma mãezona numa novela dela. A Beth sempre costuma implantar nas suas novelas campanhas subliminares com questões importantes, ela acredita muito na questão da adoção, e nas três novelas que ela assinou, ela me fez defender essa ideia, na qual minhas personagens adotava crianças, sabe! Isso me deixa muito feliz. Passar pro público essa mensagem positiva. O romance da Deolinda com o Antônio era uma gracinha. Foi ótimo, muito divertido. 
Como surgiu a ideia de criar os bonecos das personagens de “Amor Eterno Amor”? E como foi a repercussão disso entre o elenco da novela?
Essa coisa de fazer os bonecos dos personagens, eu já faço a muito tempo, quando comecei a fazer teatro eu fazia bonecos pra alguns colegas e tal. Agora em novelas, quando foi em (Eterna Magia) eu fiz alguns personagens inclusive os diretores da novela, em especial os do meu núcleo. Já em (Escrito nas Estrelas) só consegui fazer três bonecos, na época eu estava sem atelier então não consegui fazer muitos. Nessa novela quando comecei a fazer e postar no facebook a coisa se multiplicou é virou uma doideira. Os próprios atores da novela (Amor Eterno Amor) começaram a saber que eu tinha feito bonecos das personagens para os internautas, então começaram a me pedir pra fazer pra eles também (risos), daí eu não dei conta de fazer todos porque eram 56 personagens só consegui fazer 40. Alguns colegas que já tinha trabalhado comigo, não fiz bonecos porque eles já tinham. Mas a ideia é antiga e todo mundo gosta.
Por falar em “Amor Eterno Amor”, você já atuou em outras novelas da autora Elizabeth Jhin que foram: “Eterna Magia” em (2007) e “Escrito nas Estrelas” em (2010). Como você avalia o texto dessa querida novelista?
Tive o imenso prazer de participar das três novelas autorais da Beth. Ela é uma pessoa muito sensível, como ‘ser’ ela é maravilhosa, uma senhora simples, mineirinha meio encabulada, sabe! Uma pessoa de coração maravilhoso e essas coisas transparecem muito nos textos dela, e ela gosta de desenvolver o tema espiritualista. Na primeiro novela da Beth, ela fez uma coisa com a religiosidade, na qual ela focou na religião Wicca, que e a religião das bruxas. Apesar da Beth ser católica ela pesquisa sobre outras religiões, ela tem um interesse pela espiritualidade em geral. E agora ela quer fazer uma trilogia com base no tema espiritualista focado na doutrina espírita kardecista, na qual ela tem um grupo de pessoas praticantes da religião que dão todo suporte necessário. E a Beth faz isso com muita seriedade porque o texto dela é sensível, delicado, o público percebe isso. As novelas dela transmitem mensagens do bem, positivas, super bacanas. Enfim ela apresenta ao público histórias de amores de outras vidas, relações fortes e de bondade. Eu sou suspeita pra falar! (risos)

Que lembranças você tem das participações nos programas: “Os Trapalhões”; “Chico Anísio Show”; “A Turma do Didi”; “Zorra Total”; entre outros... Todos de humor apresentados na TV Globo?
A maior parte da minha carreira foi na linha de humor. A minha estreia na TV Globo foi no programa Chico Anysio Show em (1978), fazendo participações em alguns quadros. Eu me divertia muito por que sempre fui brincalhona e sou comediante no meu dia-a-dia. Gosto de fazer piadas, falar bobagens, imitar as pessoas, me idêntico e gosto de trabalhar com humor. Ter trabalhado com Chico Anysio foi um premio, pois o Chico é o mestre dos mestres, de uma criatividade invejável, dono de uma generosidade imensa e um talento inigualável. Torço para que apareça outro igual ao Chico (Anysio), mas parece que será difícil. Agora, ter trabalhado com os quatro trapalhões: Didi, Dede, Mussum e Zacarias, foi muito divertido, eles eram incríveis. E fazer parte dessa linha de humor foi o que me manteve na carreira por todos esses anos. Só tenho a agradecer!

 A peça “Amor” encenada em (1983/1984), escrita por Oduvaldo Vianna (pai) e, dirigida por Marco Antônio Palmeira, marcou a sua vida, pois foi fazendo ela que você engravidou de sua filha Bebel Mesquita. Qual era o mote da peça? E como era a sua relação com o elenco?
Foi uma experiência muito legal, porque a peça era de época, com uma nuance clássica. Além de ser uma peça ótima, com um elenco muito querido, costumo dizer que foi “fazendo amor” que eu fiquei grávida da minha filha, Bebel. Ela foi feita nas coxias! (risos)

 Como você lida com a fama e com as críticas?
Eu não tenho muita dificuldade com isso não. Primeiro porque eu não me acho uma pessoa tão famosa. Gosto de lhe dar com gente, sabe! Eu converso muito, e gosto de receber o carinho transmitido dos fãs, porque é isso que vale apena nessa carreira. Ter esse retorno positivo do publico é muito gratificante. Eu adoro bater papo com as pessoas na internet, sempre respondo todo mundo! Minha filha chega a dizer que eu tenho uma terceira profissão, porque eu gosto muito de interagir com os jovens. Receber e trocar carinho pela internet, é muito legal. Agora, sobre as críticas não me chega aos meus ouvidos críticas ao meu respeito, não. (risos) E quando chegar eu vou procurar aprender com elas.

 Você participa ou prática alguma religião?
Eu sou católica de formação a vida inteira. Já participei muito de movimento jovem e tal. Hoje em dia, eu estou afastada, digamos que um pouco preguiçosa, me entende! (risos) Mas eu acho que a gente deve sempre procurar fazer o bem, mais do que você tá numa igreja rezando, podemos ajudar, desenvolver a caridade, procurar fazer alguma coisa boa para alguém. Sempre que tenho oportunidade gosto de desenvolver a caridade, mas essas coisas a gente não fica falando, né! (risos)


 Uma personagem sua que caiu nas graças do público foi a Magali da novela “Escrito nas Estrelas” (TV Globo/2010) que era fã do cantor Fábio Jr. Como foi o processo de construção dessa personagem?
A Magali foi uma personagem sensacional. Era uma dona de casa muito alegre, que tinha uma casa cheia de parentes, muitos filhos e netos. Eu me lembrava muito da minha avó, que era uma senhora portuguesa, alias muito parecida comigo fisicamente. Vovó tinha uma casa onde toda a família se reunia. Relembrei muito o passado. Pena que no final da novela não conseguimos fazer a cena do encontro dela com o Fábio Jr. Acho que foi a agenda dele que não bateu com os horários de gravação. Mais era uma delicia, ela ficava agarrada nos discos do Fábio Jr. cantarolando as músicas dele com um carinho danado. E ela era uma mãezona que cozinhava pra toda a família, cheguei a engordar horrores naquela novela. Mas foi muito bom. O Xaxa (José Rubens Chachá), fazia o meu marido, um colega de trabalho em tanto!

 Qual é o seu esquema para decorar o texto quando está gravando novela?
Cada ator tem o seu jeito para decorar. O meu eu escrevo a mão, copiando mesmo. Isso me ajuda a decorar. Tem gente que faz desenho na beira do texto, coisas que fazem lembrar, tem outros que gravam e depois ouvem. O meu sistema é antigo mesmo, porque eu decoro rapidamente.

Foram várias novelas, entre as quais estão, “Amor Eterno Amor” em (2012), “Bang Bang” em (2006), “O Clone” em (2001/2002), “Suave Veneno” em (1999), “Anjo Mau” em (1997/1998) e “História de Amor” em (1995/1996). E, agora, como está sua situação na TV Globo? Seu contrato é longo?
Participação maior mesmo foi em História de amor, na qual a Beth Jhin era colaboradora do Maneco (Manoel Carlos), eu só fui saber disso anos mais tarde. A própria Beth me contou. Na TV Globo a maioria dos atores tem contratos por obra. O meu encerrou agora, depois de Amor Eterno Amor, e vamos ver! Se Deus quiser que seja breve esse retorno para uma próxima novela.

Já faz algum tempo que você não atua no Cinema, sua última participação foi no premiadíssimo “Faca de Dois Gumes”, exibido em (1989). Tem planos de atuar novamente na ‘sétima arte’?
Eu fiz quatro filmes seguidos, e depois eu sai do Rio. Aconteceu que fui morar em Cabo Frio, lá eu trabalhei na área de cultura, e emagreci bastante, cheguei a perder 56 quilos numa dieta que fiz. Quando me ligaram para fazer cinema, eu estava magra, daí foi um deus nos acuda. (risos) A gente quer ficar bonita e esbelta, mais eles não deixam. Depois eu perdi o contato com o cinema, por que o negocio é você está no meio se não você vira carta fora do baralho. Agora, passado 24 anos, eu voltei definitivamente a morar no Rio e estou retomando os contatos com esse pessoal da indústria do cinema. Até porque o cinema vem crescendo bastante e com o fim da novela estou aberta a convites para voltar atuar no cinema.


Eu sei que você viveu em Cabo Frio (Região dos Lagos) durante vinte e dois anos. Que lembranças você tem daquela época?
Eu adoro Região dos Lagos, desde que nasci frequento aquele lugar, minha família tem uma casa em Iguabinha, e eu tenho parentes que moram lá. E no final de 1988 eu recebi o convite para assumir a diretoria cultural da região. Não pensei duas vezes, peguei minha filha, arrumei a mudança e fui pra lá feliz da vida. Minha filha nasceu lá, porque eu tenho amigos médicos que vivem lá, resolvi tela lá. Não me arrependo nenhum minuto, lá é uma gostosura, até porque eu me envolvi muito com a questão do patrimônio cultural daquela cidadezinha. Também trabalhei na área do meio ambiente. O bom e que Cabo Frio ainda é um lugar tranquilo, com menos violência. E minha paixão aquela região. Eu adoro!

Você sonha interpretar algum tipo específico de personagem?
As pessoas costumam falar que querem interpretar personagens de Shakespeare, ou então os personagens imortais da mitologia grega. Eu não, desde menina eu sonho em interpretar a dona Benta do Sítio do Picapau-amarelo. (risos) Eu agora estou na idade que já posso fazer. Eu sempre dizia, sabe! Era uma fixação que eu tinha na cabeça. Inclusive no remake da novela Pecado Capital, a Zilka Salaberry que imortalizou a dona Benta, fazia a governata da família Lisboa. E eu fui chamada pra fazer as cenas de flash-back da personagem Ba, que no caso era a Zilka mais jovem. Eu fiquei tão emocionada. E pra mim, foi um sinal de que talvez eu farei a dona Benta. (emocionada) Não sei se vão voltar a fazer o sítio na televisão, mais nem que seja no teatro ou no cinema um dia eu vou viver essa personagem.

Na novela “O Clone”, você teve uma participação notável como Dona Creusa. Nessa novela Glória Perez retratava temas culturais e sociais relevantes como: a cultura árabe, clonagem humana e dependência química. Você, na condição de profissional envolvida, acredita que as novelas podem ser consideradas um elemento sócio-cultural?
Sim, eu acredito que as novelas tem um papel importantíssimo na base cultural do Brasil. A novela atinge de tal maneira e tão profundamente todas as camadas e classes assumindo uma responsabilidade muito grande. O legal é que cada autor tem o seu estilo. A Glória Perez levanta temas e questões importantes. Ela defende também questões muito polêmicas. Inclusive a Beth assim como a Glória já fez em uma das suas novelas, mostrou o caso de crianças desaparecidas. No decorrer da trama, duas crianças foram encontradas, só isso vale tudo o que a gente fez nesses seis meses de gravação, foi sensacional! As novelas não podem se furtar de maneira alguma de usar dessa força que elas tem de conseguir mobilizar o público.

Conversando com pessoas próximas a você a gente descobre que você é uma pessoa gregária e comunicativa. Como é a sua relação com seus fãs?
Eu tenho o maior carinho. Converso e atendo a todos, principalmente via internet. Eu adoro tenho maior empatia pelos meus fãs. O que seria de nós artistas sem as pessoas que nos dão retorno. Acho que isso compensa na vida e também na carreira da gente.


Qual foi a novela que mais gostou de assistir?
Existem tantas novelas boas. Agora, uma inesquecível foi Antônio Maria, foi ótima com o Tony (Tony Ramos), outra que gostei muito foi Beto Rockfeller em preto-e-branco com o Tatá (Luiz Gustavo). De uns tempos pra cá, eu acompanhei e gostei de A Favorita era bem engendrada. O João Emanuel Carneiro é muito inteligente pra construir tramas, costumo dizer que ele gasta tudo no primeiro capítulo, mas ele costuma ter boas sacadas a cada capítulo. É muito criativo!

Que dica você deixa pra novas gerações que desejam seguir essa competitiva carreira artística?
Olha, o que eu digo pra meninada que me procura pela internet: Estudar, preocurar se preparar muito e sempre, por que ser ator não é só chegar e representar. E preciso ter um estofo, bagagem pra conseguir sobreviver e transmitir. A carreira artística não é fácil, muito menos um mar de rosas, é sim uma carreira estável um dia você tem contrato, no outro você não tem. Por mais sucesso que se faça é difícil. Se não tiver uma cabeça legal, um emocional bacana a pessoa enlouquece mesmo. Não pode achar que é brincadeira, é uma profissão séria. Enfim, o conselho que dou pra essa meninada é esse.

Para encerrar, boa sorte na vida e que ela seja um sucesso!
Obrigado pelo convite Vinícius. Assim como você, eu adoro uma telenovela, então a gente comunga desse mesmo gosto. Eu acho o seu blog um barato!
(Locação: Agradecimentos a Livraria da Travessa do Barrashopping – RJ.)

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